ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A imagem no documentário de Patricio Guzmán |
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Autor | Luís Martins Villaça |
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Resumo Expandido | A proposta desta comunicação é apresentar uma breve leitura sobre a imagem nos documentários Nostalgia da luz (2010) e O botão de pérola (2015), do diretor chileno Patricio Guzmán, a partir da direção de fotografia. Ao longo dos quarenta anos da trajetória cinematográfica de Patricio Guzmán, suas técnicas de registro e seu estilo de filmar se transformam na medida em que ele ganha experiência no campo do documentário audiovisual. Em muitos de seus filmes, notadamente aqueles realizados após o ano de 1973, a partir de quando é obrigado a exilar-se de seu país por conta da instauração do regime ditatorial militar de Augusto Pinochet, vê-se com frequência um esforço em abordar a história contemporânea de seu país, viés que irá marcar definitivamente sua identidade como cineasta. Com Nostalgia da luz e O botão de pérola, Guzmán assume uma linguagem documental madura na qual cristaliza uma modalidade audiovisual um tanto afeiçoada ao ensaio audiovisual, conceito em que, destacadamente, os autores Laura Rascarolli, Timothy Corrigan e Antonio Weinrichter debatem atualmente. Considerando que esses dois últimos filmes de Guzmán reúnem procedimentos e estratégias de registro que demonstram o encontro de um estilo muito próprio por meio do qual o cineasta imprime sua identidade, de que modo essa marca pessoal se estabelece nas imagens desses filmes? O papel da fotografia nesses dois filmes, como possível resposta à pergunta colocada, é um dado que merece atenção quando nos deparamos com tais estratégias. A parceria que ele estabelece com a fotógrafa francesa Katell Djian, que assina a direção de fotografia nos dois documentários, se demonstra nas semelhanças entre os dois filmes, tanto no comportamento da câmera diante dos motivos enquadrados quanto na estrutura narrativa que os compõem. O diretor faz proveito de cenas e sequências que conduzem o espectador a imaginar um passado, a refletir sobre acontecimentos, mesmo distantes da experiência de vida de quem assiste. Uma decupagem atenta pode indicar como o diretor concebeu a imagem nos dois filmes respeitando os mesmos critérios, como por exemplo: as imagens geográficas, nas quais vemos representado regiões do Chile e por onde se narra uma dimensão pessoal e histórica dos acontecimentos; as imagens do passado: as tomadas que servem como matéria para evocar o tempo decorrido sobre determinado evento; as imagens simbólicas: o grão de poeira, a gota d’água, as imagens do espaço astronômico como elementos icônicos universais usados para transmitir determinados estados emocionais ou evocar sentimentos específicos. A partir de duas breves sequências, uma de cada filme, pretendo demonstrar como a direção de fotografia nos conduz a uma atmosfera que gera a partir da experiência do cineasta e do trabalho de elaboração da fotógrafa. E compreender como essa narrativa nos desloca ao universo dessa experiência da qual fala o cineasta. O posicionamento da câmera e seu comportamento, o ritmo e os cortes dos planos, os motivos que a câmera enquadra como escolha e significado no âmbito da narrativa, são alguns dos aspectos pelos quais uma leitura das imagens pode ser engendrada. Autores como Francisco Elinaldo Teixeira, Bruce Block, Laurent Jullier, Michel Marie e Gil Bettman realizam um trabalho relevante que nos auxilia nesse estudo sobre a imagem no audiovisual, e que certamente se aplicam a essa leitura aqui proposta, que consiste em entender em que medida, visualmente, esses dois filmes se resolvem. Partindo do pressuposto de que, em Nostalgia da luz e O botão de pérola, Guzmán elabora narrativas que se aproximam em estrutura, estilo e tema, o intuito aqui é compreender como o resultado dessa elaboração imagética se torna imprescindível na construção de um recorte pessoal da história, concebido pelo diretor e executado tecnicamente pela fotógrafa. |
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Bibliografia | BETTMAN, Gil. Directing the camera: how professional directors use a moving camera to energize their films. Studio City: Michael Wiese Productions, 2013. |