ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Reichenbach evoca Person: Pilhagem no Cinema Corsário |
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Autor | Bruno Vieira Lottelli |
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Resumo Expandido | Enfronhada diretamente nas contendas mais calorosas de cada período, a trajetória cinematográfica de Carlos Reichenbach atravessou quatro décadas. Ao longo desta trajetória, sua obra perpassou intensas e subsequentes modificações no contexto histórico do país. Para garantir sua própria sobrevivência, Reichenbach precisou adaptar-se a modos diversos de produção, aventurar-se por temas e esquemas narrativos variados e reexaminar constantemente o sentido de sua relação com o público. Apesar desta miríade de experiências, uma marca registrada em sua postura foi a busca por autonomia intelectual e liberdade criativa. Uma espécie de corsário - termo que reverbera um sugestivo imaginário muito presente em sua obra - a navegar atentamente de acordo com os ventos, alterando as rotas sempre que necessário, ora abarrotado de recursos, ora carregando apenas o essencial, porém sempre apropriando e subvertendo, isto é, pilhando as fontes de referência de acordo com uma ética pessoal intransigente. À sua maneira, Reichenbach atualizou a tradição antropofágica modernista brasileira ao operar complexa deglutição ou, melhor dizendo, pilhagem de referências que abrangem simultaneamente tópicos da alta e baixa culturas, nacionais e estrangeiras, cinematográficas e não-cinematográficas. Em seu primeiro longa-metragem, "Corrida em Busca do Amor" (1971), o cineasta remete-se aos filmes produzidos por Roger Corman como forma de viabilizar uma obra voltada ao sucesso comercial, embora sacrificada pelo parco financiamento. No trabalho seguinte, "Lilian M: Relatório Confidencial" (1975), mais focado na exploração da linguagem cinematográfica, Reichenbach faz citações diretas a mestres do cinema japonês, como Shohei Imamura. Na ocasião do lançamento de "O Império do Desejo" (1980), Reichenbach publicou o manifesto “Porque fiz este filme” em que enumera dezenas de referências para sua obra, desde mitologia grega aos Beatles, passando por Orson Welles, Carlos Zéfiro, Kierkegaard, a represa Billings, entre outras. O objetivo desta comunicação é compreender os princípios da pilhagem teórico-artística desenvolvida por Reichenbach ao longo de sua carreira, tendo como principal objeto de análise a influência da obra e pensamento de Luís Sérgio Person, em especial as relações possíveis entre as construções dos filmes "São Paulo S/A" (1965) e "Filme Demência" (1986) em suas dimensões poéticas, estéticas e políticas. Desta forma, inseridos no contexto de análise da Teoria dos Cineastas, interessa-nos discutir a elaboração da práxis corsária de Reichenbach a partir de evocações da obra de seu mestre, tal como a representação do sujeito metropolitano esculpida nos protagonistas de São Paulo S/A e Filmes Demência, separadas por mais de duas décadas. Além dos ecos encontrados entre as construções de Carlos e Fausto, respectivamente, as obras escolhidas possibilitam observar a forma pela qual os cineastas compreendem seus momentos históricos em relação à trajetória de formação da metrópole paulistana. Nesta mesma linha, podemos observar como cada um dos cineastas busca inserir-se na tradição iniciada pelos filmes de José Medina, em especial com "Fragmentos da Vida" (1929), de obras que tematizam o terrível peso exercido pela experiência de vida na cidade de São Paulo sobre a subjetividade de seus cidadãos. Finalmente, no que tange a esta comunicação, nossa primeira tarefa será analisar os aspectos poéticos, estéticos e políticos das construções de "São Paulo S/A" e "Filme Demência", a fim de compreender as possíveis linhas de transmissão de conceitos, práticas e intenções entre as obras. Na sequência, analisaremos a produção literária de Reichenbach, destacando entre manifestos, artigos e entrevistas conceitos que organizem os princípios criativos da pilhagem reichenbachiana. Finalmente, aproximaremos as análises fílmicas e literárias para buscar compreender Filme Demência atravessada pelas referências à Luís Sérgio Person, a quem a obra é dedicada. |
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Bibliografia | AUMONT, J. As Teorias dos Cineastas. São Paulo: Papirus Editora, 2002. |