ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | No limite e no limiar – O hiper-real no cinema de Akira Kurosawa |
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Autor | Edylene Daniel Severiano |
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Resumo Expandido | A comunicação proposta é dedicada às películas Rapsódia em agosto (1991) e Sonhos (1990) de Akira Kurosawa. Norteados pelos conceitos de Pós-modernidade, simulacro, simulação, hiper-real e cultura aleatória, buscaremos tecer uma leitura acerca da construção por jogos de cena de um real, já não mais com origem na realidade. Nosso ponto de partida é a passagem da Modernidade para a Pós-modernidade, quando as categorias se esfacelaram, e corroboram a afirmação de Marx, recuperada por Bauman, de que o mundo sólido se desmancha no ar, por fim se liquefazendo. Ou melhor, se pulverizando. Jean-François Lyotard, um dos mais ferrenhos críticos da Pós-modernidade, em A Condição Pós-Moderna, afirma que “o grande relato” como matéria do pensar perdeu credibilidade, ou seja, a questão da legitimação, observada desde Platão, tomou novos contornos. Jean Baudrillard (1991), por seu turno, traça considerações desta nova conjuntura em Simulacros e simulação, em que problematiza a crise do real e a passagem deste para o hiper-real. Como matéria da Pós-modernidade o hiper-real reside na negação e incompreensão, pois, se, por um lado, há a sua negação, posta mesmo como negação da Modernidade, por outro, há a incapacidade de uma conceituação ideal e, consequentemente, o não entendimento da extensão de seus efeitos. Pensamos ser este o preâmbulo da cultura aleatória, pois se este não entender pode nos ser válido é no sentido de encaminhar uma superação de um imaginário de origem ou de fim pelo qual as sociedades estiveram obcecadas (Baudrillard, 1991). Isto posto, nos propomos intentar uma leitura da película Rapsódia em agosto a partir da re-presentação da morte do real, com foco no evento nuclear, a “apoteose da simulação”, ou seja, o momento da morte do real e nascimento do hiper-real. Deste modo, apreende-se o fazer rapsodo de Kurosawa como a tecitura que compõe este momento, com fragmentos do real, reunindo-os de modo a expô-los pelas última e primeira vez, representando-os e simulando-os, já como forma do hiper-real. Na película Sonhos, nos detemos no sonho O demônio que chora, que mostra a condição humana pós-holocaustos nucleares, em que, ao homem em fuga para não se tornar um demônio, resta apenas a sua própria humanidade e o vagar, sem fim, pois este já não existe. À vista disso, propomos este vagar como uma possibilidade de exórdio daquilo que Baudrillard (1991) denominou o encerramento do “imaginário obcecado pelo próprio fim”, passando a humanidade à “cultura sem qualquer imaginário”, a “sociedade aleatória”. Diante disso procuraremos refletir como as questões do nosso tempo se expressam na linguagem cinematográfica por meio do que consideramos re-presentação. Para isso nos deteremos no conceito de hiper-real, não como matéria, mas como fenômeno inaugural de uma nova fase da humanidade, o caminhar para uma sociedade da “cultura aleatória”, por meio de uma leitura em não analepse das referidas películas de Akira Kurosawa. |
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Bibliografia | BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Tradução. Maria João da Costa Pereira. Lisboa: Relógio D’água, 1991. |