ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Outros Cinemas Pernambucanos |
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Autor | Iomana Rocha de Araújo Silva |
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Resumo Expandido | Observa-se atualmente nos circuitos de museus, galerias, mostras de arte contemporânea e centros dedicados à artemídia, uma crescente e fervilhante produção audiovisual originada da apropriação, por parte dos artistas contemporâneos, da linguagem e dos meios técnicos próprios do cinema. Tal produção apresenta variados modos de projeção, difusão e recepção das imagens em movimento. Engloba muitas maneiras de se trabalhar a linguagem audiovisual, ampliando-a e multiplicando-a para além do espaço da tela, jogando com as margens do cinema, da fotografia, do vídeo, da performance, das imagens produzidas no computador. Acompanhando essa tendência mundial, observa-se no estado de Pernambuco uma vasta produção dentro destas manifestações que se desvinculam do conceito tradicional de cinema. Produção esta que não é exatamente recente, e nos remete as experimentações pioneiras de artistas como Paulo Bruscky, que realizou cerca de 30 filmes de artistas e videoartes entre 1979 e 1982, depois disso produziu videoinstalações, além de ter criado técnicas especificas como o xerox-filme, com base em sequências xerográficas. Depois disso, vários outros artistas pernambucanos vêm seguindo por diversas experimentações, como as em super 8 de Jomard Muniz de Brito, com obras marcadas pela transgressão e anarquia, as polêmicas experiências em vídeo do coletivo Telephone Colorido, chegando na produção contemporânea de Jonathas de Andrade, Marcelo Coutinho, Barbara Wagner, além de artistas como Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso, que ao mesmo tempo estão ligados a forma cinema, bem como propõem obras instalativas ou outras experiências estéticas com as imagens de seus filmes. Diante disso, propõe-se uma observação sobre estes outros cinemas pernambucanos. Para tanto apresento neste artigo um recorte panorâmico, observando os filmes “Poema: O filme é a ponta e a ponta é o filme” (1979) de Paulo bruscky, poema visual em que o artista recolheu durante mais de um ano pontas brancas (que vinham antes de começar a parte projetável) dos filmes super 8, realizou intervenções, transformou-as em filme e velou trechos para se tornarem as pontas. Evidencia-se com esta obra um período de livre experimentação, o cinema como meio plástico a ser explorada pela criatividade do artista; o segundo filme, “Resgate Cultural” (2001) do coletivo Telephone Colorido, curta de autoria coletiva, modus operandi anárquico e montagem fragmentada e não linear, usa como mote central um bem humorado sequestro como um artificio para escancarar algumas questões sobre a tradição artística pernambucana e sua indústria cultural. Marca-se assim a importância dos coletivos artísticos para a produção audiovisual pernambucana, a produção marginal possibilitada pelo advento do vídeo e uma postura crítica e ativista de seus autores. E por fim “Estás vendo coisas” (2016) de Barbara Wagner e Benjamim de Burca, esta obra apresenta o universo brega de Recife por meio de um olhar ao mesmo tempo documental e alegórico, com participação direta de figuras reais do contexto brega e fortes influências do gênero musical, o filme acompanha dois personagens que se deslocam entre seus empregos comuns (cabeleireiro/ bombeira) e suas vidas junto ao universo de shows das bandas que participam. Uma produção contemporânea que demonstra uma consciência da via de mão dupla entre artes visuais e cinema, bem como evidencia as dinâmicas de exibição e circulação desse tipo de obra, que permeia os universos das artes visuais e do cinema, sendo exibidos tanto em bienais e galerias, como em festivais de cinema tradicionais. Com este recorte busca-se apontar peculiaridades relacionadas aos contextos de cada obra, seus processos artísticos, as redes de criação que estabeleceram no estado, apontando uma produção madura, rica e heterogênea em linguagem e técnicas. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Entre imagens. Campinas. São Paulo: Papirus. 1997. |