ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Um sadismo singular |
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Autor | César Takemoto Quitério |
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Resumo Expandido | A comunicação vai propor uma leitura do cinema de Sergio Bianchi a partir de um conceito modernista de alegoria, levando em conta seu uso e compreensão cinematográficos em uma de suas matrizes clássicas, Alfred Hitchcock, em especial o que se vislumbra através do trabalho de William Rothman, em especial The murderous gaze. É essa concepção de alegoria que nos permitirá desentranhar a relação propriamente perversa entre espectador e autor que está em jogo em ambas as cinematografias. É preciso reconhecer que o cinema de Sergio Bianchi, em especial a forma como ele encarna uma ideia de Autor cinematográfico, se inscreve de várias maneiras na tradição de Alfred Hitchcock, a começar pela presença de motivos cinematográficos que permitem identificar sua autoria. Ambos os autores partilham, por exemplo, usos específicos de motivos sonoros de enquadramento, assim como um uso do enquadramento como confinamento do sujeito da câmera. Esse último permite constatar que as personagens dos filmes desses autores tendem a existir como figuras dos filmes, em oposição a uma existência como índices da realidade ou do mundo. Apoiando-se em análise e comentário de cenas específicas, trata-se de mostrar a operacionalidade e a relevância de um processo alegórico que operaria no plano da enunciação, a despeito daquela que opera no plano do enunciado. Está claro que é possível demonstrar com proveito processos de alegorização que estão em jogo no plano do enunciado, do enredo e suas formas, em vários filmes de Bianchi, em especial em seus dois primeiros longas-metragens, Maldita coincidência (1979) e Romance (1988). Contudo, é possível postular que é no investimento da alegoria inscrita no plano da enunciação que está a chave para o desenvolvimento da singularidade e do salto estético – propriamente moderno – do autor. Em Maldita coincidência e em Romance ainda há resquícios de um processo de alegorização que se dá na transposição, para o plano do enunciado, de figuras transcendente-alegóricas, personagens-tipo, previamente dadas, tais como: os diferentes arcanos do Tarô no primeiro filme; o intelectual iconoclasta, a amante libertária, o homossexual e a jornalista crítico-investigativa, no segundo. A diegese trataria então aqui de dar realidade fílmica às vicissitudes dessas figuras nas situações que compõem o enredo. O resultado, de maneira geral, é a morte, a impossibilidade ou a aceitação dos horizontes rebaixados e mesquinhos em que se pode viver e trabalhar. Ora, o que começa a aparecer em Mato eles? (1982), A causa secreta (1994) e culmina em Cronicamente inviável (2000) é cada vez mais uma inversão (perversão) na qual o que é encenado não é mais simplesmente situações cênico-cinematográficas que encarnariam uma dada realidade histórico-social, mas planos diegéticos que encenariam a própria relação entre o espectador e o autor. A natureza dessa relação, como entrega o tema explícito de A causa secreta, é sádico-perversa, a ser devidamente qualificada e especificada através da análise dos filmes. A comunicação tentará assim apresentar os resultados parciais de uma investigação que tenta redimensionar os conceitos através do quais se pensa o cinema de Sergio Bianchi, tais como o moralismo, o cinismo, a ironia e o ressentimento. Opera, assim, com a aposta arriscada de que o quadro teórico psicanalítico da perversão oferece contribuições singulares e ricas em consequências para a avaliação estética de autores tão díspares quanto cruciais. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. A Hitchcock reader. Ames: Iowa State University, 1986. |