ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Entre Bazin e Kracauer: a atualização do realismo na contemporaneidade |
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Autor | Cristiane Freitas Gutfreind |
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Resumo Expandido | As questões entorno do realismo fazem parte do cinema desde a sua origem e continuam ainda hoje a mobilizar uma discussão sobre a “ficcionalização” de temas relacionados a traumas históricos. O interesse desse trabalho é construir uma reflexão sobre a atualidade das teorias realistas a partir de seus precursores, Bazin e Kracauer, para compreender a representação de acontecimentos históricos na contemporaneidade, como a ditadura civil-militar brasileira, através de filmes de ficção biográficos. Esse tema faz parte de uma pesquisa, iniciada desde 2009, e tem financiamento de bolsa PQ – CNPq. O realismo é a apreensão de um mundo imaginário produzindo um efeito de real e a sua banalização nas artes e nas mídias deve-se a sua vinculação, no século XX, às artes narrativas e do espetáculo. Em revanche, algumas correntes realistas vão tentar recuperar certa capacidade de idealização para dizer algo sobre o real. A partir dos anos 50, Bazin e Kracauer, partem do neorrealismo italiano para elaborar suas teorias, baseando-se na ideia de que o cinema representa a realidade e, ao mesmo tempo, mostra a sua ontologia. Se para Bazin, grosso modo, o cinema se aproxima do mundo como seu prolongamento, destacando a sua capacidade em participar da vida existente, para Kracauer, ao contrário, o cinema registra os aspectos já vistos para revelar aquilo que não é compreensível de imediato. Se para o primeiro o cinema é uma “revelação” e, portanto, evidencia as aparências, para o segundo, o cinema é apreendido como um dispositivo, onde o mundo é reproduzido e documentado. Além disso, esses teóricos partem do pressuposto de que um mesmo acontecimento histórico é passível de diferentes representações, e cada uma delas abandona ou salva qualidades que faz com que o acontecimento seja reconhecido na tela. Kracauer ainda avança, com as suas ideias em relação à Bazin, ao enfocar que o cinema realista é um sintoma da realidade vivida, servindo como documento para construção e atualização da história. O didatismo e a espetacularização fazem parte da banalização do realismo midiático, questionado por vários autores, desde os anos 60, como Rivette, Godard, Lanzmann, Lyotard, passando por Badiou, Rancière até a recente polêmica entre Didi-Huberman e Fleischer. Em 2015, Georges Didi-Hubermen escreve uma carta em formato de livro, Sortir du noir, ao diretor do filme O Filho de Saul (Nemes, 2015) e ao final do ano passado, Alain Fleischer, responde a Didi-Huberman, no livro intitulado Retour au Noir. A discussão sobre o realismo se faz, então, fundamental nessa proposta pois nos remete à criação da imagem cinematográfica na contemporaneidade. Segundo Badiou (2010, p. 358): “a imagem é com o que o cinema pensa, porque o pensamento é sempre uma criação”. Nesse sentido, o cinema possibilita encontrar a realidade, pois se constitui em uma forma de pensamento em movimento onde há criação e abstração. Mas, essa característica faz com que haja uma exposição indiscriminada de imagens visuais de acontecimentos históricos atreladas às diferentes mídias e suas técnicas, cada vez mais entranhadas no cotidiano, que contribuem para banalização e inconsistência dessas imagens possibilitando que o acontecimento torne-se um simulacro; fazendo com que o efeito de real fique invadido de imagens extremas, que, por vezes, viram míticas (como as cenas de militantes brasileiros correndo contra bombas de gás lacrimogêneo em imagens amplamente difundidas da ditadura civil-militar), substituindo, assim, o impacto pela indiferença. O que pretendemos aqui, então, é construir uma reflexão atualizada sobre essas indagações, a partir de confrontos e aproximações entre as teorias de Bazin e Kracauer, tendo os filmes de ficção biográficos sobre a ditadura civil-militar como foco, ou seja, a junção de real, imagem e personagem como criação de um pensamento sobre esse acontecimento histórico. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. De l’esthétique au présent. Paris: De Boeck Université, 1998. |