ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Estilo e autoria nas séries de ficção: uma análise de Fargo |
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Autor | Ludmila Moreira Macedo de Carvalho |
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Resumo Expandido | O crescimento das séries de ficção televisivas na contemporaneidade é uma realidade que há muito não pode ser ignorada. Vistas antes como produtos indignos de atenção por parte de teóricos e analistas, as séries têm cada vez mais se tornado local privilegiado de experimentações estéticas, temáticas, narrativas e poéticas. Este conjunto de possibilidades expressivas da ficção seriada vem chamando a atenção, inclusive, de diretores de cinema - e não apenas os do chamado mainstream hollywoodiano, mas também aqueles considerados autores. David Lynch, Steven Soderbergh, M. Night Shyamalan, Woody Allen e as irmãs Washowsky são apenas alguns exemplos de cineastas que têm transitado entre o cinema e a televisão, sendo que novos casos são anunciados com frequência. O presente trabalho irá se deter justamente sobre a possibilidade de uma investigação a respeito da autoria nas séries de ficção. O que significa falar de autoria no contexto da ficção seriada televisiva contemporânea? Trabalhamos com a hipótese de que a noção de autoria nas séries possui duas dimensões profundamente inter-relacionadas: em sua dimensão contextual, ela atua como uma construção dentro do campo de produção responsável por estabelecer um lugar de fala aos autores e indicadores de qualidade aos produtos; em sua dimensão textual, ela atua como o conjunto de marcas estilísticas impressas tanto na mise-en-scène quanto na estrutura narrativa das séries, responsável por transforma-las em obras coerentes e coesas. Como exercício de análise, faremos uma investigação a respeito de Fargo, série de ficção criada pelo roteirista e produtor Noah Hawley. Com duas temporadas exibidas em 2014 e 2015 pelo canal norte-americano FX, a série possui uma estrutura de antologia, ou seja, a cada temporada (de dez episódios cada) é apresentado um universo dramático independente, com personagens, elenco e narrativa próprios. Todas as obras apresentam casos de investigações policiais ocorridos em pequenas e aparentemente pacatas cidades dos estados norte-americanos de Minnesota e Dakota do Norte. A série é baseada num filme homônimo, lançado em 1996 e dirigido pelos irmãos Ethan e Joel Coen, autores reconhecidos por possuírem uma assinatura marcante em suas obras. A série não consiste numa refilmagem, nem tampouco numa continuação dos eventos narrados no longa - ou seja, as obras não dialogam entre si através da narrativa, embora haja alguns detalhes que liguem a história do filme à série. O que perpassa do filme para a série parece ser algo mais da ordem do estilo: está na atmosfera de suspense criada a partir de crimes brutais que irrompem bruscamente na pacata rotina de cidades pequenas; no envolvimento, nestes crimes, de personagens comuns (mulheres grávidas, mães de família, vendedores de seguro), dotados do inconfundível sotaque da região Norte dos Estados Unidos; na brincadeira com o suposto realismo de situações surreais (todos os capítulos de série, assim como o filme, começam com um letreiro que diz que a obra foi baseada em fatos reais, o que, por sua vez, não é verdade); na exploração dos espaços desertos, bem como do frio e da neve característicos do inverno nestas cidades, entre outros elementos narrativos, cenográficos, estéticos e poéticos. Tendo em vista a criação de uma obra original cujo estilo é aberta e propositalmente derivativo de uma obra pré-existente, onde se localiza a autoria em Fargo? Poder-se-ia falar em autoria compartilhada entre o autor da série e os autores do filme (que atuam como produtores executivos da série)? Para responder a estas e outras perguntas norteadoras de nossa pesquisa, investigaremos de que modo a relação dos irmãos Coen com uma posição autoral no campo de produção cinematográfica colabora para legitimar a noção de qualidade e originalidade associada à série televisiva, ao passo em que procuraremos verificar, nas obras, a presença das marcas estilísticas que partilham. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz. A encenação no cinema. São Paulo: Papirus, 2009. |