ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | À escuta de "Sophia" |
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Autor | VIRGÍNIA DE OLIVEIRA SILVA |
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Resumo Expandido | O jovem sertanejo Kennel Rógis (Coremas-PB) foi selecionado para o II Laboratório Paraibano para Jovens Roteiristas ( JABRE) em 2012, na cidade do Congo, no Cariri da PB, organizado por Torquato Joel e Virgínia Silva, coordenadores na UFPB dos Projetos ViAção Paraíba e Cinestésico, respectivamente. Após roteirizar “Sophia”, Rógis foi selecionado pelo Edital Linduarte Noronha do Fundo de Incentivo à Cultura do Estado da Paraíba, no mesmo ano. Em 2013, Rógis dirige a intimidade cotidiana de uma micro família de classe popular em uma cidade do sertão nordestino e mergulha na busca por estabelecer algum elo entre dois mundos distintos, o da mãe solteira e o de sua filha surda, personagens centrais de “Sophia”. Metodologicamente, primeiro, assistimos ao curta reiteradamente para realizarmos a Análise de Plano a Plano (APP) de seu som e imagem, depois, analisamos mais detidamente os efeitos sonoros propostos pelo diretor e equipe de som, bem como seus desdobramentos para a recepção estética de “Sophia” pelos espectadores. Destacamos dois pontos relevantes à consecução e entendimento da análise auditiva de “Sophia”. O primeiro trata-se daquilo que afirma Metz (1977) a respeito da etimologia do termo diegese: (...) provém do grego diegesis, significando narração e designava particularmente uma das partes obrigatórias do discurso jurídico, a exposição dos fatos. Tratando-se de cinema o termo foi revalorizado por Étienne Souriau; designa a instância fílmica: o enredo em si, mas também o tempo e o espaço implicados no e pelo enredo, portanto as personagens, as paisagens, acontecimentos e outros elementos narrativos, desde que tomados no seu estado denotado. (METZ, 1977, p. 118) O segundo ponto refere-se à relação do som no cinema ficcional, trazida por Flôres (2013): (...) por mais que o som se assemelhe a algo natural, ele sempre será uma fabricação inerente ao processo criativo de todo filme nos mais variados estilos. Até mesmo o som direto se torna diegético, na medida em que é sua adequação ao espaço criado que o integra à narrativa. (FLÔRES, 2013, p. 37) Dos elementos possíveis de serem sonoramente analisados na diegese cinematográfica (voz, música, ruído e silêncio), em "Sophia" há quase ausência de voz, somente identificamos um balbucio entre a mãe e a vizinha, e no qual o modelo de escuta semântica está comprometido. Contrariando a tendência ao vococentrismo e ao verbocentrismo característicos do cinema clássico estadunidense, não há monólogos, diálogos, voz de narrador. Quanto aos ruídos do filme, na procura de se tecer verossimilhança para se produzir maior grau de realidade na relação com o espectador, correspondem ao que vemos nas imagens, estão colados e subordinados a elas, exceto nos Planos 1 e 8 da Cena 1 e no final do Plano 8 da Cena 8, em que som e imagem estão descolados, não compondo a clássica montagem vertical eisensteiniana (CHION, 1985, p. 56), podendo levar o espectador a pensar o modelo causal de escuta: "se, ao contrário das outras cenas, nestas, imagem e som são autônomos, de onde vem o som que ouvimos?" O som antecipa a locação do plano seguinte. O que se ouve (grilo, pedra na amarelinha, atrito de dedos no papel), diz da escolha hiperrealista de Rógis, diretor-mixador-editor de som. Em relação ao elemento música, Gorbman (1987, p.79) afirma que "Music appears in classical cinema as a signifier of emotion." A primeira canção ouvida no curta, p.e., é diegética (CHION, 1994), aparenta vir do rádio que Sophia liga tentando alegrar a mãe que o sintoniza. Pela temática abordada, o silêncio não poderia deixar de ocorrer em algumas cenas, como, p.e., quando o som paradoxalmente some antes de aparecer a cartela com o título "Sophia" entre aspas, em cima e embaixo, como quando se desenha a propagação do som no espaço. Assim, concluímos: presente ou ausente, o som em “Sophia” é o elemento essencial para a costura da continuidade de suas cenas, a construção de sua ambiência fílmica e a sua própria significação. |
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Bibliografia | ANDREW, Dudley. As principais teorias de cinema. Uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 1989. |