ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | De prosa com as imagens - pela etnografia visual e da duração |
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Autor | Roberta Simon |
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Resumo Expandido | O presente artigo tem como objetivo refletir sobre as contribuições do aporte metodológico da etnografia da duração para compreensão dos fenômenos fílmicos. Ancorado na perspectiva da fenomenologia bachelardiana para a metodologia da antropologia visual e urbana, a etnografia da duração considera as imagens em seu aspecto dialético e em sua potência para a abertura à imaginação criadora, pelo viés de Benjamin, Bachelard e Durand. Parte-se de uma análise fílmica que considera as imagens visuais e sonoras consteladas por categorias sócio-antropológicas e organizadas por meio de uma montagem narrativa. O objeto de análise é a crônica vídeo-etnográfica “De Prosa com as Imagens - narrativas, paisagens e movimentos em Porto Alegre”, com pesquisa, direção e roteiro de minha autoria. Este vídeo faz parte de meu projeto de pesquisa de doutorado intitulado “De Prosa com as Imagens”, sob orientação do Prof. Dr. Carlos Gerbase (Pós-Graduação em Comunicação Social/PUCRS), com apoio do grupo de estudos Cinesofia (PUCRS), dos núcleos de pesquisa Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV/UFRGS) e Núcleo de Antropologia Visual (Navisual/UFRGS). Trata-se de uma pesquisa interdisciplinar entre os campos da Comunicação e Antropologia que visa compreender como proseamos com as imagens, ainda, de que forma as narrativas diante das imagens em uma exposição são entrelaçadas pelas narrativas biográficas dos personagens e seus contextos socioculturais. Para tanto, o artigo pretende explorar as dimensões estéticas do tempo e do espaço do objeto fílmico a partir da produção de sentido e de conhecimento da crônica vídeo-etnográfica. Considera-se a crônica um fragmento imagético inscrito em uma pesquisa científica, cuja arqueologia fundante parte de processos de etnografia visual e da ética de restituição, no sentido de Bachelard, Arlaud e Didi-Huberman. Acredito que para uma análise fílmica, os sentidos que a imagem produz estão relacionados às suas formas de produção narrativa da duração e as formas sensíveis de diálogos que se abrem como gatilhos para novas narrativas e imagens. A estética fílmica se encontra no jogo de narrativas e imagens, nas constantes trocas entre produção, filme e recepção, pois na prosa com as imagens essas fronteiras são mais fluidas e diluídas. Nesta perspectiva, a proposta é analisar o vídeo a partir das categorias de visão de mundo e ritmos temporais da etnografia da duração, apresentadas por Cornelia Eckert e Ana L. C. Rocha. Apesar de ser um filme de minha autoria, acredito que o intuito de trazer para debate um processo metodológico de análise fílmica a partir dessa perspectiva pode contribuir para as reflexões que o seminário se propõem. Trata-se de um vídeo que busca pistas para compreender como proseamos com as imagens. Nele apresentamos Claudio, um pai dedicado a sua família, em busca de trabalho e preocupado com o futuro da juventude em Porto Alegre. Ele passou pela exposição dos alunos de Ciências Sociais da UFRGS, intitulada "Etnografias Compartilhadas: narrativas visuais e sonoras do viver urbano em Porto Alegre" e foi afetado pelas imagens no saguão da Reitoria da UFRGS. Atravessado por suas narrativas biográficas, Claudio dialoga com os três projetos expográficos que faziam parte da exposição: "Horta Comunitária", "Lambendo a cidade" e "Feira de Hip Hop". Esta exposição foi resultado de um processo trocas de conhecimento no curso de Antropologia Visual. Na ocasião, filmes etnográficos provocavam os debates em sala de aula a partir de leituras temáticas para análise das imagens, como, por exemplo, questões epistemológicas e metodológicas da pesquisa ética em antropologia visual; paisagens e intervenções urbanas; narrativa visual da memória coletiva; o legado da antropologia compartilhada de Jean Rouch; e a força da imagem nos movimentos de justiça social. A crônica video-etnográfica se insere nesse contexto de prosear com as imagens que nos afetam, nos habitam e nos formam. Com as imagens que duram. |
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Bibliografia | BACHELARD, Gaston. A dialética da duração SP, Ática, 1988. |