ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Documentário e TV pública: o caso emblemático da BBC. |
|
Autor | JULIO DE MATOS LIMA |
|
Resumo Expandido | Este artigo é fruto da pesquisa “Brazil by the BBC”, mestrado realizado na Goldsmiths University of London, orientado por James Curran, que analisa quantitativa e qualitativamente da cobertura jornalística e documental realizada pela BBC em 2014 – ano em que ocorreu a Copa do Mundo no Brasil. Para se entender melhor a relação entre a BBC e o documentário, é fundamental compreender como ela foi criada e como é mantida até os dias de hoje. Para John Reith, fundador da emissora, a BBC deveria ser independente e imparcial, e seu objetivos deveriam ser: entreter, informar e educar. Para se alcançar tais objetivos, a forma de financiamento é um fator decisivo. As emissoras americanas, com um modelo de financiamento privado baseado em propaganda, que mais pareciam feiras virtuais, eram a prova de que o Reino Unido deveria trilhar outro caminho, dizia Reith (Briggs, 1985). Assim, a BBC foi fundada em 1922, detendo o monopólio dos meios de comunicação no Reino Unido e financiada através de uma taxa compulsória (TV License), conferindo-lhe um alto grau de independência econômica. Já a independência política, considerado o calcanhar de Aquiles da emissora, foi construída através de instituições, que mediam a relação entre o governo e a emissora (atualmente BBC Trust) e que prestam contas à sociedade (Curran, 1981). Talvez a ideia de imparcialidade da BBC tenha sido forjada em oposição ao modelo de jornalismo impresso, que era praticado na Inglaterra no início do século XX. Os jornais eram partidarizados com linhas editoriais por vezes radicais e militantes, acirrando as disputas e promovendo a segmentação no público. John Reith propôs então que a TV pública deveria buscar o consenso e trabalhar no sentido de unificar o país (Curran, 1981). É importante ressaltar que a imparcialidade da BBC já foi tema de muitas pesquisas (Curran, Brigs, Burns, Johnson, Tracey) e que existe um consenso acerca da fragilidade desta convicção. Entretanto, é justamente na busca por imparcialidade, associada à relativa independência política e econômica da emissora, que se consolidou um modelo de televisão adotado em todo o planeta hoje. A imparcialidade, hoje, é entendida na emissora como um conceito abrangente, com sutilezas e nuances que vão além do jornalismo e que não se encerra em uma matéria jornalística. Na carta de princípios da emissora lê-se: “Nós seremos imparciais em todos os nossos conteúdos e isto refletirá uma ampla diversidade de opiniões através de todos os nossos veículos como um todo, em um período apropriado de tempo, de modo que nenhuma linha de pensamento será conscientemente não refletida ou não representada” (BBC, 2014, p.04, tradução nossa). Dada a inexorável fragilidade do jornalismo em relação à imparcialidade (Wanta, 2004), cabe aos documentários a tarefa de tornar a emissora menos tendenciosa. São eles que propõem uma outra compreensão dos fatos, e uma reflexão crítica e aprofundada, que o jornalismo expõe de forma enviesada e rasa. Soma-se a isto a importância que eles possuem na grade da emissora – são exibidos em horário nobre, criticados nos principais jornais e divulgados em todos o país –, o que os torna uma fonte de informações importante para o telespectador. A pesquisa por mim realizada, revelou que a cobertura jornalística da BBC sobre o Brasil nos meses que antecederam a Copa do Mundo de 2014, em nada se diferenciaram dos veículos de comunicação privados. Todavia, foi justamente a produção documental exibida pela emissora que lançou um olhar rico e diverso sobre os diferentes aspectos do Brasil, evidenciando a importância do gênero para a emissora e para a opinião pública inglesa. Portanto, o objetivo do artigo é lançar uma olhar crítico sobre em que medida o documentário é importante para a manutenção do status de TV pública da BBC, como ela contribuiu para forjar no público um apurado gosto pelo gênero, o qual persiste até os dias de hoje, e, conclusivamente, traçando paralelos com a TV pública brasileira. |
|
Bibliografia | BEATTIE, K. 2004. Documentary Screens: Non-Fiction Film and Television. Basingstoke: Palgrave Macmillan. |