ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O cinema animado dos artistas plásticos de Pernambuco |
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Autor | Marcos Buccini Pio Ribeiro |
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Resumo Expandido | Em seus primórdios, o cinema foi ‘reivindicado’ tanto pelos artistas que queriam torná-lo narrativo e teatral, quanto pelos artistas plásticos, em especial os vanguardistas da década de 1920. Dos primeiros, nasce o cinema comercial e, destes últimos, surge o cinema experimental. A arte animada também se desenvolve dentro destas duas frentes antagônicas. Enquanto cartunistas usavam o cinema animado para criar narrativas em cima de piadas, alguns artistas plásticos vislumbraram neste novo meio a possibilidade de expandir as propriedades da pintura e escultura ao dotá-las de movimento. Eventualmente, o cinema de animação experimental acabou sendo ofuscado por uma produção comercial e ortodoxa, porém, ele nunca deixou de existir e continua vivo em diversas cinematografias. Em Pernambuco, existem diversos exemplos deste tipo de obra. A partir de uma catalogação de 179 títulos animados, foram encontrados oito filmes realizados por artistas plásticos no estado. A primeira experiência documentada foi a trilogia Dinâmica dos traços (1972), na qual o artista plástico Ypiranga Filho aproveita um rolo de filme Super-8 velado para realizar uma intervenção direta sobre a película. Raspando a emulsão em vários sentidos usando lâminas de barbear, lixas e palha de aço, o artista obteve uma ‘dança’ de traços. Os filmes foram exibidos em mostras no Recife e, no começo dos anos 2000, o Dinâmica dos traços II participou da Mostra Marginália 70 – Experimentalismo no Super-8 Brasileiro. Na década de 1980, Paulo Bruscky produz 3 xerofilmes. Nesta técnica, as imagens são capturadas por uma máquina fotocopiadora e, em seguida, as cópias são passadas para película. Apesar da forma inusitada de usar a fotocopiadora como dispositivo cinematográfico, em termos cinéticos, o resultado é similar ao pixilation ou stop motion com objetos. Porém, plasticamente, o xerofilme possui particularidades: a planificação dos elementos dada pela distorção dos objetos pressionados contra o vidro e a falta de profundidade que ocorre pela incapacidade do mecanismo de registrar imagens que estão muito afastadas. Os filmes produzidos foram: Xeroperformace (1980), em que o próprio autor se debruça sobre a máquina; LMNUWZ Fogo! (1980), o artista coloca fogo na máquina enquanto ela registra flagrantes de sua própria destruição; e Aépta (1982), realizado com objetos sobre uma fotocopiadora colorida. Em 2006, o artista plástico Márcio Almeida realizou uma videoinstalação, Entre o novo e o nada. A obra consistia em alocar uma família moradora de um barraco para uma casa de alvenaria. O barraco então seria desmontado e remontado no MAC (Museu de Arte Contemporânea). Acompanhando a instalação, havia um fotodocumentário animado mostrando os bastidores da produção. O filme, feito a partir de 5 mil fotos, acabou ganhando uma trajetória independente da instalação, ao ser exibido em mostras e festivais. Trata-se de mais uma forma de hibridização, que posiciona a obra entre animação, documentário e obra de arte. Em 2010, As Aventuras de Paulo Bruscky acompanha as experiências do artista dentro do Second Life. A técnica utilizada é o Machinima, que consiste em usar uma plataforma digital como espaço diegético para ‘gravar’ um filme. A obra explora os limites entre ficção e documentário, uma vez que Bruscky o ‘sujeito retratado’ notadamente participa ativamente do conceito do filme, tornando-se também ‘sujeito autor’. Ao observarmos estes oito filmes, podemos notar como artistas plásticos, ao extrapolar o seu território de origem, conseguem trazer novas ideias e novas experiências para o cinema animado. Talvez isto se dê pelo motivo de que as artes plásticas serem, por si só, um terreno rico em experimentações e seus artistas não possuírem as ‘amarras’ de um animador tradicional em relação à técnica, dispositivos, processos, conceitos e estética. Através dessa troca de vivências, ambos os campos ganham e enriquecem seus repertórios e experiências. |
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Bibliografia | DENIS, Sébastien. O cinema de animação. Lisboa: Texto & Grafia, 2010. |