ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Os intelectuais e o pensamento cinematográfico independente brasileiro |
|
Autor | Maria Cristina Couto Melo |
|
Resumo Expandido | O pensamento sobre cinema independente no Brasil aponta para a reflexão sobre quais são os grupos que estiveram envolvidos na atividade cinematográfica e em que medida sua atuação foi determinante para a elaboração e transformação da noção de cinema independente. Nesse sentido, a discussão a respeito da figura do intelectual possibilita o adensamento da compreensão dos realizadores, críticos, historiadores, e teóricos do cinema brasileiro como um grupo não homogêneo que esteve envolvido no desenvolvimento desse pensamento. A “tomada de posição do intelectual” (Sartre, 1994) se apresenta na medida em que a corporação cinematográfica ao longo do desenvolvimento da atividade no Brasil apresentou uma posição de resistência e defesa do cinema nacional em relação à dominação estética e de mercado do cinema mainstream. O cinema independente e as reflexões desenvolvidas em relação a esse cinema foram decisivos no sentido de busca de uma legitimidade de representação do nacional no cinema e de propostas de modos alternativos de produção que se adequassem ao contexto político e econômico. Nesse sentido, o reconhecimento do cinema nacional enquanto produção ocupada, subdesenvolvida, problematizada por Paulo Emílio Salles Gomes (1980), de origem burguesa, inserida na lógica de mercado, e a compreensão do sistema cinematográfico como a integração cíclica dos setores de produção, distribuição e exibição, que precisa efetivar o sistema autor-obra-público, resultou na crítica da dominação do cinema nacional e no engajamento em busca de soluções (ainda que essas propostas não tenham alcançado seus objetivos de maneira efetiva). Segundo Autran (2003) a realização do I Congresso Paulista de Cinema Brasileiro e do I Congresso Nacional do Cinema Brasileiro, ambos 1952, foi um primeiro momento em que isso se consolida. Durante os Congressos, a defesa das teses de Alex Viany, Rodolfo Nanni, Mário Civelli, Nelson Pereira dos Santos, entre outros é determinante na definição do independentismo cinematográfico da década de 1950 (Galvão, 1980). Nas décadas seguintes, com os movimentos do Cinema Novo e Cinema Marginal, a ideia de cinema independente e as relações implicadas em suas práticas se modificam. Na década de 1960, a epítome do pensamento cinematográfico independente pode ser encontrada nas posições de Glauber Rocha na primeira fase do Cinema Novo (Rocha, 2003) e no âmbito do chamado Cinema Marginal, as produções de Jairo Ferreira, Rogério Sganzerla e Ozualdo Candeias destacam a defesa e realização de filmes que se posicionavam à margem dos sistemas consolidados de produção, distribuição, exibição e representação estética. O surgimento da Embrafilme a partir de 1969 e a atuação da empresa nas décadas seguintes foram marcadas pela participação efetiva de membros da corporação cinematográfica, sobretudo a partir de 1974, com a gestão de Roberto Farias à frente da Embrafilme. No contexto das décadas seguintes, com a reestruturação da atividade cinematográfica após o fechamento definitivo da Embrafilme em 1990, a noção de cinema independente é transformada e, novamente, os intelectuais possuíram participação direta nas discussões relativas à atividade cinematográfica, com a realização do III Congresso Brasileiro de Cinema e da formação do GEDIC (Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica) em 2000, além da criação da Ancine (Agência Nacional de Cinema) em 2001, que consolida a política cinematográfica desenvolvida desde a extinção da Embrafilme. Dessa forma, propõe-se a reflexão sobre a questão da presença da corporação cinematográfica como grupos de intelectuais articulando sua participação na elaboração do pensamento cinematográfico independente, identificando quais foram as relações que se desenvolveram entre os diferentes grupos e linhas de abordagem, no período que corresponde ao início da década de 1950, momento inicial das reflexões sobre o cinema independente brasileiro, a 2001. |
|
Bibliografia | AUTRAN, Arthur. Alex Viany: crítico e historiador. São Paulo: Perspective; Rio de Janeiro: Petrobrás, 2003. |