ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Em busca das estaturas miúdas: imaginação e resiliência nos... |
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Autor | denise tavares da silva |
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Resumo Expandido | Título: Em busca das estaturas miúdas: imaginação e resiliência nos circuitos da memória em “Abuelos” e “Allende, mi abuelo Allende” Em territórios ceifados pela violência, como as que percorrem tantas vezes a América Latina, a obrigação da memória – como lembra Sarlo (2007) – parece continuar a se impor, carregando neste movimento, estratégias de quem se sente, de algum modo, apartado da própria história. Tal percepção é travestida de busca das origens em Abuelos (Chile/Equador, 2010), de Carla Valencia Dávila e em Allende, mi abuelo Allende (Chile/México, 2015), de Márcia Tambutti Allende e envolvem o modo de narrar, a emersão do espaço biográfico no cenário contemporâneo (Arfuch, 2010), e certos dilemas que afligem o documentário na América Latina. Como, por exemplo, o seu esforço de modelar a matéria tantas vezes incoerente, ambígua ou ausente, dos sonhos de mudanças e seus vestígios, incrustados nas imagens e sons como reminiscências ou redesenhos passíveis de “assossegar” a figura assombrada de um avô. Seja ela super exposta, como a do ex-presidente assassinado do Chile, Salvador Allende, no filme de Márcia Allende; seja de perfis mais anônimos, como o de Juan Dávila, ativista chileno do mesmo partido e período de Allende, e de Remo Dávila, médico autodidata equatoriano, ambos avôs de Carla Dávila. Em outros termos, os documentários de Allende e Dávila, realizados por perspectivas distintas, realocam a figura do avô no centro de um possível reencontro com a própria identidade. Assim, trata-se de cerzir – apesar dos caminhos diferenciados - uma relativa lógica comum. Esta encontra paralelo “no invisível labirinto do tempo”, narrado por Borges em “O jardim de veredas que se bifurcam” (2007, p.88). Ou, talvez também em Novalis (“Em nós, ou em nenhum lugar, está a Eternidade, com seus mundos, o passado e o futuro” - 1981, p. 113), para quem só seria possível penetrar no mistério da vida banhando-se nas águas de um novo Romantismo, que não obscurece a razão, mas celebra a transcendência humana. Ou seja, significa tecer uma espécie de moto perpétuo em torno da memória e sua significação no sentido da vida, o que coloca à realização do documentário latino-americano questões essenciais. Primeiro, porque se adivinha neste percurso, como ocorre em “Abuelos”, a celebração de uma poética que entrelaça às imagens ausentes dos avôs uma retórica permeada pela simbologia do sensível, o que inclui um elo indissolúvel com a natureza. Depois, porque se aciona a intimidade, como acontece em “Allende”, como o horizonte das revelações imprecisas, adensando, na lógica da vida ordinária, as matrizes, também, da história ainda necessária. Estes fios, é claro, não são esquemáticos. Ao contrário. Como bem coloca Rezende (2013, p. 126), “Quando se fala, por exemplo, em realidade – especialmente para apontar sua relação com o documentário – tende-se a ignorar a dimensão virtual dos objetos, acontecimentos e situações tratados, considerando-os reais porque existem”. Isto é, nos dois filmes não há possibilidade de se encontrar a origem pura, ou alguma totalidade que permita uma completude no círculo fechado da obra. O que existe é o esforço da criação, da viabilização de um projeto a partir de reminiscências, lembranças, falas e imagens embaralhadas e encharcadas do real. Desviar-se, portanto, de um peso já determinado ou acumulado pela história de cada avô, buscar frestas que não cristalizem o passado mas sim abram a possibilidade de novas percepções, eis o desafio. O como se percorre (ou não) tais veredas é uma questão central para esta comunicação, que tem como uma relativa sombra a lhe acompanhar, estes versos de Novalis (1981, p. 280): “[...] Hijos de tiempos pasados, héroes de épocas oscuras, gigantescos espíritus de los astros, extrañamente reunidos, dulces mujeres, graves maestros, niños y ancianos decrépitos, todos, sentados em círculo, Viven aqui em este mundo antíguo[...]”. |
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Bibliografia | ARFUCH, Leonor. O Espaço Biográfico – Dilemas da Subjetividade Contemporânea. Rio de Janeiro: Eduerj, 2010. |