ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Teoria dos cineastas na Saga Filmes: autoria, gênero e grossura lírica |
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Autor | Simplicio Neto Ramos de Sousa |
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Resumo Expandido | Este trabalho é um dos desdobramentos de nossa tese de doutorado “A realidade brasileira no cinema: as teorias dos cineastas brasileiros sobre a representação do real”, de 2014. No levantamento da produção escrita publicada de diretores brasileiros de longa-metragens de ficção, que, a nosso ver, chegaram a criar teorias próprias sobre da “questão realista” no Cinema Nacional, pudemos delinear outra questão correlata, a “questão da comunicação". As respostas a ela, dadas pelo grupo reunido na Saga Filmes nos anos 60, serão nosso foco de interesse, e demonstram como nossos cineastas elaboraram conceitos relativos a linguagem, autoria, gênero, e recepção no Cinema. Gustavo Dahl (apud AUTRAN, 2008), antes um divulgador da “Politique des Auteurs” da Cahiers du Cinema no Brasil, já em 1966 fala do mal estar frente aos resultados de bilheteria de seus pares na Revista Civilização Brasileira, anunciando a "questão que atormenta todo o Cinema Novo”: a de “como vencer a contradição entre um cinema responsável no nível do pensamento e da linguagem e sua aceitação pelo público". Para Dahl, só há três opções: "a consolidação econômica da atividade", ou "as investigações estéticas e ideológicas", ou "uma solução que conseguisse conciliar os dois eixos" (DAHL apud AUTRAN, 2008). Nesse contexto, querer um Cinema Novo, mas também o amor do público nacional-popular, gera a Saga Filmes, e seu cinema autoral-popular. Leon Hirszman compra tal empresa de Joaquim Pedro de Andrade, e nela faz uma série de obras autorais com estratégias de gênero, visando a tal “comunicação” com o público pagante. Ao longo de 1967, a Saga Filmes lança o musical Garota de Ipanema, do próprio Leon, a comédia romântica Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos de Oliveira, e o policial de Miguel Borges, Perpétuo contra o esquadrão da morte. "Eu prestava atenção nas reações do público”, conta Leon, explicando que essa safra de filmes "pretendia ser a base de um possível caminho industrial do cinema brasileiro” (HIRSZMAN, 2005). Seu amigo, o então roteirista Eduardo Coutinho, participa de vários projetos da Saga, dirigido a comédia O homem que comprou o Mundo (1968), e a adaptação de Shakespeare, Faustão (1970), primeiro de quatro longas sobre o cangaço, investimento da Saga no popular gênero do "nordestern". Termo cunhado "habilmente" por Salvyano Cavalcanti de Paiva, segundo Glauber Rocha, que co-roteirizou Garota de Ipanema, e então comentou: "só me sentirei bem com o cinema no dia em que, sem fazer concessões à pornografia e ao mau gosto, conseguir atingir o público" (ROCHA, 1967b). Glauber aqui contrapõe sua colaboração na Saga, com o seu desdém pelo então chamado "cinema grosso", associado aos policiais de Jece Valadão e ao cinema de Miguel Borges (SILVA NETO, 2008). Um dos fundadores do Cinema Novo, com o curta Zé da Cachorra, parte de Cinco Vezes Favela (1962), e com o longa Canalha em Crise (1965), Borges é o primeiro dissidente do movimento. No calor do lançamento das obras autorais-comerciais da Saga, Borges aproveita as entrevistas sobre Perpétuo para, atacando o Cinema Novo, conceituar a "grossura lírica", uma prévia de categorizações posteriores, como "cinema-cafageste", feita por Carlos Reichenbach ao lançar As libertinas (1969). Como se vangloria Borges (1970) ao crítico José Carlos Monteiro numa entrevista para o Caderno B, seu filme "é um precursor", pois "quem o diz é Rogério Sganzerla, citando-o entre os melhores resultados do cinema novo". Empenha-se em afirmar seu afastamento do autorismo, criticando contraposição entre autor e artesão, termo elaborado no Brasil, de Paulo Emilio Salles Gomes a Glauber Rocha, e que permeia a questão da comunicação, problematizada ao extremo com essa série de filmes. A análise, a defesa e o ataque a estes, feita pelos cineastas-críticos no calor do lançamento, é a fonte dos conceitos em jogo, e do eixo de construção teórica por parte dos realizadores, que analisaremos |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. As concepções de público no pensamento industrial cinematográfico. Revista FAMECOS. Porto Alegre, n. 36, p. 84-90, ago. 2008. |