ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A questão Brecht: Ôshima e os signos de teatralidade |
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Autor | Pedro de Araujo Nogueira Tinen |
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Resumo Expandido | Frequentemente referenciado como um diretor Brechtiano, Nagisa Ôshima, em sua busca por um cinema efetivamente político, fez uso de diversas técnicas que almejaram o distanciamento crítico do espectador. Porém, um segundo olhar revela que nem todas as técnicas utilizadas são, necessariamente, variações cinematográficas das proposições de Brecht. Em O Enforcamento (Koshikei, 1968), explorou o potencial político dos modos de representação ao abordar a história de R., um personagem coreano condenado à morte no Japão. Escancarando a teatralidade da justiça, a sobrevivência do protagonista à tentativa de execução, e sua subsequente amnésia, obriga os oficiais da prisão a reencenarem o crime ao qual ele havia sido condenado, na tentativa de forçar a recuperação da memória através da encenação. O resultado é uma inversão do processo legal: através da gestualidade, são as ações dos carrascos que são postas em evidência, não as do acusado. Em seu livro ‘To the Distant Observer: Form and Meaning in the Japanese Cinema’, Noël Burch diferencia o modo ocidental representacional do modo japonês apresentacional, no qual, o segundo se distingue do primeiro pela evidenciação do artifício da forma. De acordo com Burch, o modo apresentacional foi adaptado para o cinema no Japão dos anos de 1930, influenciado pelas tradições do kabuki, kodan e bunraku. Em uma tentativa de demarcar uma diferença, a alteridade do cinema japonês é tomada como alternativa ao cinema narrativo burguês, em uma análise que mistura os efeitos do modo apresentacional das artes tradicionais japonesas com o modernismo cinematográfico. ‘Brechtiano’ e ‘apresentacional’, apesar de suscitarem efeitos similares, não são sinônimos. De tal modo, a análise das políticas de reflexividade de O Enforcamento revela as idiossincrasias da crítica de Burch, que valoriza a propriedade apresentacional do cinema japonês pela maneira com que é produzido um distanciamento crítico e afetivo, atribuindo assim, uma qualidade anacronicamente moderna ao cinema clássico japonês. Apesar de seminal, o argumento de Burch sobre a diferença cultural implica na construção de um cinema nacional homogêneo e de alteridade idealizada. O Enforcamento é um dos marcos da Nouvelle Vague Japonesa, sua estrutura repetitiva e burlesca se aproxima do teatro do absurdo e questiona a possibilidade de se gerar identificação através da representação clássica. Com a análise fílmica e a discussão teórica, esta comunicação tem o objetivo de inferir sobre o potencial político da forma e sobre um dos debates mais críticos nos estudos de cinema asiático hoje: os modos de representação. |
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Bibliografia | ANDERSON, Joseph e RICHIE, Donald. 1958. “Traditional Theater and the Film in Japan”. Film Quarterly v. 12 n. 1: 2-9. |