ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Cinema do entrelugar: um estudo sobre limiares e fronteiras |
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Autor | Angelita Maria Bogado |
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Resumo Expandido | Para o estudo do cinema do entrelugar no documentário contemporâneo brasileiro, primeiramente, visitamos as ideias de Silviano Santiago e Homi Bhabha. A potência do termo, enquanto um espaço de contato, nos permite adotá-lo nos estudos de cinema justamente pelo seu caráter agregador. O conceito de cinema do entrelugar possibilita um vasto campo de conexões, para este artigo nos concentraremos nas ideias de limiar e fronteira. Walter Benjamin enfatiza “O limiar deve ser rigorosamente diferenciado da fronteira”. Limiar traz em si a ideia de fluxo, transição, movimento. Já o conceito de fronteira, segundo Jeanne Marie Gagnebin, está ligado “a contextos jurídicos de delimitação territorial”. A proposição fornece uma importante reflexão para percebermos como os cineastas operam, através da linguagem, formas de saltar entre tempos e espaços, tidos a priori como fronteiriços, comunicando-os. Como cineastas contemporâneos constroem planos-limiares em seus filmes como forma de tentar desconstruir ou denunciar as fronteiras entre centro e periferia? Para compreender e demonstrar como esse cinema do entrelugar tem se comportado, levamos em consideração, primeiramente, o próprio pulsar do registro fílmico mais recente como Branco sai, preto fica (Adirley Queirós, 2014), Orestes (Rodrigo Siqueira 2015) e Vozerio (Vladimir Seixas, 2016). Qual o espaço, a possibilidade e a importância de se praticar um cinema do entrelugar em um ambiente onde muros interditam o diálogo, muitas vezes impossibilitando o seu transbordamento? É nesse ponto da história, anos 2014 e 2017, esse limiar entre os filmes que foram e os que ainda estão por vir que pretendemos refletir sobre as fronteiras impostas ao entrelugar. O cinema do entrelugar tem sido um espaço dissonante, onde se pode, como pregou Benjamin, “escovar a história a contrapelo” derrubar os muros da história oficial e romper com o discurso dominante. Até o momento, o cinema do entrelugar fez ver e ouvir os silêncios, os apagamentos e as lacunas da história. O cenário impele, irremediavelmente, o contemporâneo para um discurso identitário e territorial de lugar. As zonas limiares construídas pelo cinema do entrelugar são uma forma de resistir às culturas e políticas de apagamento. O entrelugar cinematográfico propõe espaços tanto de contato quanto de denúncia da separação, contudo, diante de um país murado por discursos de ódio, o diálogo está interditado, aparentemente não há contado, passagem ou limiar possível. A fronteira, nesse momento, também pode ser vista não apenas como impotência de transição, mas como potência e afirmação de identidades. Acreditamos, assim como Paul Zumthor (2014), que caminhamos para um limiar de uma nova era da oralidade. A “energia coletiva” da qual observa Zumthor, está presente na fala de Adirley Queirós, Rodrigo Siqueira, Vladimir Seixas e tantos outros cineastas contemporâneos como vamos demonstrar aqui. O cinema do entrelugar se traduz por criar modos fílmicos de passagem e, assim apresentar novas formas de realinhamento cultural, político e social. |
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Bibliografia | BENJAMIN, W. Passagens. BH: Editora UFMG, 2006. |