ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A(s) pedagogia(s) da imagem em Black Mirror |
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Autor | Ana Paula Nunes |
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Resumo Expandido | Há muito se discute a ética e a estética das pedagogias da imagem. Para Anita Leandro uma pedagogia da imagem, por princípio, deve se preocupar com o processo criativo e mobilizador da imagem. Segundo a autora: “A imagem pensa e faz pensar, e é nesse sentido que ela contém uma pedagogia intrínseca” (2001, p. 4). Em outras palavras, uma veia pedagógica em filmes que não possuem o objetivo de serem educativos no sentido institucional, científico ou moral, mas em sentido estético e/ou político. As vanguardas históricas, do início do século XX, representam a manifestação dos primeiros ideais pedagógicos através do cinema, uma pedagogia do olhar. Em geral, os vanguardistas visavam, cada um a seu modo (algumas vezes confrontando-se), uma oposição à dramatização moral do mundo própria do melodrama burguês, no qual o ocultamento de suas operações transmitem uma naturalização da ordem social. As vanguardas buscavam a “opacidade” da construção cinematográfica, isto é, a revelação do Dispositivo, a fim de mobilizar um distanciamento crítico do espectador (XAVIER, 2005). Neste sentido, o construtivismo russo, por exemplo, defendia uma arte revolucionária capaz de “refazer o mundo e encerrar toda a alienação humana, [e para tal] trabalha expondo o modo como as coisas são feitas” (SARAIVA, 2009, p.115). Para Vítor Reia-Batista (1995), há três grandes tipos de dimensão pedagógica da imagem: afirmativa; interrogativa e herege. O “grande cinema” - cinema hollywoodiano e os que seguem seus moldes, geralmente, segue a dimensão de uma pedagogia afirmativa, ou seja, confirma, ratifica o status quo, os valores dominantes. Relaciona-se à pedagogia da moral, à imagem pedagógica, como um veículo de transmissão de mensagens. A pedagogia interrogativa, como o próprio nome diz, questiona os principais dogmas vigentes, desestabiliza os valores dominantes, uma corrente cinematográfica que ganhou força nos anos 60 e 70 por todo o planeta. Já a pedagogia herege não mais questiona, mas procura subverter e minar por dentro o sistema, como a filmografia surrealista de Buñuel. Deste modo, com o trinômio proposto por Reia-Baptista (1995), vislumbra-se uma maior complexificação das possibilidades das pedagogias da imagem, compreendidas de forma plural. Todas mobilizam a atividade espectatorial, porém, tanto a dimensão interrogativa quanto a herege são questionadoras, desafiadoras e mais adequadas ao que poderíamos chamar de “imagens pensantes”. A série da televisão britânica (Channel 4), comprada pela Netflix, Black Mirror, mostra-se com as características de uma pedagogia interrogativa, confrontando o espectador com questões desestabilizadoras. O próprio nome, “espelho negro”, já indica um espaço-tempo em que a tecnologia nos permite pensar sobre o nosso reflexo, na tela preta do eletrônico desligado involuntariamente. O formato da série, com histórias absolutamente autônomas acerca do mesmo tema, pode ser relacionado a uma curadoria educativa, que faz uma tessitura de diferentes aspectos envolvendo o uso social das ferramentas tecnológicas: midiatização, vigilância, tecnicidade etc. Porém, a série de Charles Brooker permite outras formulações sobre a forma-conteúdo dessas “imagens pensantes”, quando o próprio autor satiriza o seu lugar de fala, e no último episódio uma personagem questiona: “Tudo isto é uma lição de moral?” Esta comunicação pretende ser um exercício de análise da(s) pedagogia(s) da série, tomando como base três episódios, um de cada temporada: 1) Hino Nacional – nesta primeira história um artista faz uma performance midiática flertando com uma pedagogia herege; 2) Manda quem pode – no qual hakers elaboram um jogo disciplinador de personagens com condutas imorais; 3) Odiados pela nação – em que um personagem coloca em prática um manifesto mortal, visando chamar a atenção da população para a responsabilidade individual sobre o uso das tecnologias. Este último episódio fecha o ciclo com a afirmação do manifesto: “isto não é uma perfomance". |
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Bibliografia | JANOTTI JR., Jeder; MATTOS; Maria Ângela; JACKS, Nilda (orgs.) Mediação & Midiatização. Salvador: EDUFBA; Brasília: Compós, 2012. |