ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Produção e destruição: a guerra e o método dialético de Harun Farocki |
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Autor | Jamer Guterres de Mello |
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Resumo Expandido | Este trabalho tem como objetivo investigar o modo como o método dialético e arqueológico praticado pelo cineasta alemão Harun Farocki no filme “Reconhecer e Perseguir” (2003) permite identificar uma reciprocidade entre produção e destruição, entre a indústria do consumo e os aparatos de guerra e, ainda, perceber que a guerra é cada vez mais feita à distância, a partir das imagens e das mídias. Farocki desenvolve sua obra tentando recuperar o caráter impessoal dos dispositivos técnicos e institucionais de produção, distribuição e consumo das imagens, reiterando o seguinte questionamento: como é possível ver, ler e apreender as imagens do mundo a partir do que elas nos mostram, mas também a partir daquilo que elas ocultam? Para ele, uma confiança ingênua na capacidade demonstrativa das imagens seria incapaz de perceber a condição residual de violência que subjaz aos modos específicos de representação (FERNANDEZ, 2014). Se trate da violência direta ou simbólica, o que seria um “conteúdo” da violência permanece excluído no fluxo imagético convencional dos meios audiovisuais como a televisão ou o cinema. O que Farocki chamou de “desgosto das imagens” – a exata inversão de uma fascinação acrítica a todo o poder demonstrativo das imagens – poderia ser interpretado, em consequência, como o reconhecimento explícito de nossa impotência frente ao que podem as imagens (FERNANDEZ, 2014). O que o cineasta se esforça para desvelar é o que há de violento no intervalo entre as imagens, em relações que normalmente não aparecem em sua dimensão figurativa mais superficial. O método de Farocki pode ser pensado como um diagrama que produz agenciamentos e conexões entre imagens que a princípio seriam desconexas. Para ele, não há uma crítica às imagens que se encontre fora das imagens. Em “Reconhecer e Perseguir”, cujo título é inspirado no livro “Vigiar e Punir”, de Michel Foucault, Farocki utiliza diferentes séries de imagens que mostram o processo de avanço tecnológico das câmeras acopladas a bombas, desde 1942, na Segunda Guerra Mundial. A evolução destes dispositivos passa pelas bombas teleguiadas e controladas por imagens em computador, chegando aos mísseis inteligentes, guiados por microsensores e equipados com câmeras de alta tecnologia. No interior dessas séries dialéticas (RANCIÈRE, 2015), são intercaladas outras imagens, que mostram o avanço tecnológico da indústria, como, por exemplo, em uma linha de montagem de automóveis, onde uma câmera e o tratamento de sua imagem são utilizados para escolher o local exato da colocação de uma peça, sem qualquer ação humana. Para Farocki, esses são exemplos de um novo tipo de imagem reduzida a algoritmos e operações técnicas, baseadas em processos calculáveis. “Reconhecer e Perseguir” denuncia como as operações industriais e militares são delegadas cada vez mais às máquinas, ao mesmo tempo em que o controle dessas operações é cada vez mais delegado às imagens. Esta proposta de estudo se baseia em alguns pressupostos teóricos como as novas configurações do estatuto do olhar a partir da visão subjetiva, descrita por Jonathan Crary (2012), a artificialidade cinemática da máquina de guerra e sua capacidade de se projetar como um espetáculo, segundo Paul Virilio (2005); a condição do rastro como sobreimpressão da violência e da perpetração da dominação, segundo Jeanne Marie Gagnebin (2009); além dos estudos específicos sobre as estratégias e métodos colocados em prática por Farocki. O trabalho é parte de uma investigação mais ampla sobre a obra do cineasta, que tem sido apresentada em processo nos últimos encontros da Socine, em torno de temas como a montagem de tempos heterogêneos e descontínuos que dá a ver um sintoma que se expressa no arquivo; os limites do visível e do enunciável em uma relação de tensão entre as diversas camadas do arquivo; e a possibilidade de criação de imagens capazes de superar os modelos de representação da realidade na relação entre cinema e videoinstalação. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. A foto-diagrama. In: MOURÃO, M. D.; BORGES, C.; MOURÃO, P. (orgs.). Harun Farocki: por uma politização do olhar. São Paulo: Cinemateca Brasileira, 2010, pp. 134-147. |