ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | É uma crítica filmada ou um documento sobre as obsessões de seu autor? |
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Autor | Daniela Giovana Siqueira |
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Resumo Expandido | Em 1975, o diretor Maurício Gomes Leite afirmou: “(...) é uma crítica filmada ou um documento sobre as obsessões políticas, estéticas e particulares de seu autor” (LEITE, 1975, s.p). Na frase ele se refere ao seu longa-metragem A Vida Provisória realizado em 1968. Esta proposta se dedica a apresentar o crítico, jornalista e cineasta, João Maurício Amarantes Gomes Leite (1936-1993), buscando cotejar diversos textos críticos escritos por ele, com um exercício de análise fílmica feito a partir de seu único longa-metragem. A análise busca perceber como a tessitura fílmica conforma em imagens e sons, a percepção sobre cinema postulada durante anos pelo crítico em seus textos. Nascido em Montes Claros, Minas Gerais, Leite transferiu-se para a capital Belo Horizonte para trabalhar como jornalista. Enquanto crítico, escreveu para a conceituada Revista de Cinema, que na década de 1950 foi considerada por Paulo Emílio Sales Gomes como a principal publicação de crítica cinematográfica do Brasil. Leitor contumaz dos Cahiers du Cinéma, foi um dos primeiros brasileiros a escrever sobre Jean-Luc Godard, e seus textos influenciaram a geração cineclubista belo-horizontina da década de 1960 reunida no cineclube do Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais (CEC). No Rio de Janeiro, trabalhou no Correio da Manhã e no Jornal do Brasil, colaborando também com outros periódicos, além de ter sido um dos fomentadores da chamada Geração Paissandu, propondo a exibição de filmes ainda inéditos dos jovens franceses da Nouvelle Vague no Brasil. Sérgio Augusto, em texto escrito por ocasião da morte de Leite afirmou: “Escrevia com extrema elegância. Seus textos eram ágeis e provocantes; um tanto pernósticos para uns, mas inegavelmente inteligentes. (...) Cuidava de uma seção de notas e ruminações inspirada no ‘Petit Journal Intime’ dos ‘Cahiers’, tinha a mania de escrever ‘coisas’ à maneira antiga (‘cousas’), brigava com os cinéfilos catolicões, alinhava John Ford, John Huston, Billy Wilder, Vittorio De Sica e Carol Reed entre seus cineastas favoritos, destacava Richard Basehart e Anne Baxter como seus atores prediletos. (...) Bem, assim era o Maurício de 1955. Seria outro na década seguinte, já no Rio e com a cabeça virada pela Nouvelle Vague, que conheceu ‘in loco’ e no calor da hora, e pelos planos-sequência de Antonioni.” (AUGUSTO, 1993, p.5) “Como cineasta, dirigiu e produziu o documentário de média-metragem O Velho e o Novo (1966), sobre o crítico literário Otto Maria Carpeaux no contexto político-cultural brasileiro, e o longa-metragem de ficção A Vida Provisória (1968); escreveu o texto da locução de Cinema Novo (1967), documentário de Joaquim Pedro de Andrade”. (FONSECA, 2014, p. 164) Maurício Gomes Leite, como gostava de ser chamado, permanece um nome pouco conhecido dos estudos sobre cinema brasileiro. Sua relação com cinema começa de forma mais aprofundada com a prática cineclubista, estende-se pela crítica e desdobra-se na produção cinematográfica. Seu percurso, portanto, nos mostra um caminho intricado com a cultura cinematográfica. Acreditamos que seu único longa-metragem, A Vida Provisória (1968), insere-se na trajetória do realizador como uma síntese de suas reflexões sobre o cinema e sobre sua postura política de esquerda. Nossa proposta pretende tecer uma comparação entre texto e filme para buscar entender como estes dois âmbitos da instituição cinematográfica se apresentaram na vida e obra de Maurício Gomes Leite. |
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Bibliografia | AUGUSTO, Sérgio. “Gomes Leite avançou demais para sua época”. Folha de S. Paulo, Ilustrada, p.5, 13 de novembro de 1993. |