ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Destruição e criação: temporalidade nas naturezas mortas de Ori Gersht |
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Autor | Manuela de Mattos Salazar |
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Resumo Expandido | Em Blow up (2007), da série History Repeating, Ori Gersht reproduz de modo milimetricamente calculado arranjos florais inspirados em quadros do pintor francês de naturezas mortas do século XIX, Henri Fantin-Latour. Em seguida, o artista promove explosões nestes artefatos e registra em velocidades inconcebíveis para o olhar humano (como 1/6000 de um segundo) o instante mínimo do acontecimento. O resultado são vídeos que desaceleram e fotografias que congelam o impacto causado pela explosão. “Gersht contrasta a violência da explosão com a calma das pinturas de natureza morta tradicionais, embora a mensagem mórbida permaneça” (PETRY, 2013, 54, tradução nossa). A mesma coisa podemos ver em Pomegranate (2006), da mesma série, quando o artista reproduz um singelo bódegon do espanhol Juan Sanchéz Cotán, mas substitui um marmelo por uma romã, na composição. Trata-se de uma observação sobre a polissemia do nome desta fruta em hebraico, que também por significar granada. No vídeo da obra, vê-se, em câmera lenta, um projétil cruzar o enquadramento e atravessar a romã, espalhando suas sementes para todos os lados, o que, de fato, aconteceu de maneira imensamente veloz e imperceptível ao olho humano. “O momento da criação é o momento da destruição em si”, afirma Gersht. Por fim, Gersht compôs On Reflection (2015) a partir de uma série de arranjos de flores artificiais, inspirados nos pintados pelo belga Jan Brueguel, o Velho, no século XVII. Desta vez, ele os filmou e os fotografou refletidos em um espelho, e descargas elétricas destruíram as superfícies reflexivas, o que, novamente por desaceleração e congelamento, provocou o surgimento de fractais, movimentos e reflexos difusos, registradas nas diversas obras da série. Ao trabalhar simultaneamente com pintura, fotografia tecnológica e vídeo, Gersht, de fato, propõe um repertório de temporalidades, que retomam e atualizam as relações entre a morte e a vida, a beleza e a infalibidade do tempo sobre as coisas, já presentes desde as primeiras manifestações das naturezas mortas, na Antiguidade. Assim, visamos neste trabalho investigar este novo modo de ver o gênero das naturezas mortas, cujo advento proporciona uma variedade de instâncias temporais, provocadas pela distinção e mistura entre movimento e estática. Temos aqui, portanto, um still life que não é tão still, e uma natureza efetivamente morta pela brutalidade de forças usadas nas obras. A esta discussão, portanto, soma-se outra, sobre a relação entre beleza e violência, na rapidez de projéteis disparados, e explosões inesperadas, que o próprio artista assume ser uma preocupação originária seu tempo vivendo em Tel Aviv. Com a poeira que paira lentamente em Blow up, as sementes de romã vermelhas suspensas no ar, o uso calculado de sonoridades alarmantes, Gersht promove um encontro com um universo de guerra, e suas temporalidades suspensas e agoniantes diante da fragilidade da vida. Além da influência dos grandes mestres da pintura das naturezas mortas de séculos passados, Gersht também se pauta nas revoluções tecnológicas fotográficas, como, por exemplo, a obra de Harold Edgerton, e podemos sentir ressoar influências de outros artistas contemporâneos que lidam com variações temporais como Michael Wesely e Sam Taylor Wood. A tecnologia é essencial: seus trabalhos são realizados com uma dezena de câmeras e uma série de computadores ligados em rede à explosivos, que proporcionam a nossa visualização de um tempo que está além do que podemos experienciar. Assim, também pretendemos entender como os trabalhos de Ori Gersht se confrontam com conceitos absolutos de verdade e de tempo passado na fotografia, no vídeo e na pintura. |
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Bibliografia | BRYSON, Norman. “Looking at the Overlooked – Four Essays on Still Life Painting”. London, 1990. |