ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Crônica de um desaparecimento: espaços para um povo em exílio |
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Autor | Maria Ines Dieuzeide Santos Souza |
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Resumo Expandido | Nossa proposta de trabalho se debruça sobre a análise da construção espacial de Crônica de um desaparecimento (1996), o primeiro filme da trilogia palestina de Elia Suleiman. Neste filme, acompanhamos o retorno de E.S. do exílio para a casa dos pais, e este retorno nos é mostrado por meio de fragmentos do cotidiano que constituem uma espécie de diário dividido em duas partes: Nazaré - diário pessoal e Jerusalém - diário político, encerrado pelo epílogo A terra prometida. Inspiradas pelos títulos de cada parte, que apontam para uma estruturação do filme que obedece a uma lógica espacial, interessa-nos investigar os modos como o filme apresenta esses lugares e os povoa. Tratamos, com esta análise, de perceber as relações entre o espaço narrativo (a casa paterna ou as cidades percorridas) e o espaço visual do quadro. Buscamos compreender como os modos de enquadramento, as dimensões do quadro, a delimitação dos espaços dentro e fora de campo, a distância da cena e as relações de profundidade de campo podem dizer da ocupação territorial, trazendo para a tela uma elaboração formal da experiência do exílio e do retorno, da luta pela permanência ou retomada da terra. Ainda que Crônica de um desaparecimento marque estruturalmente a divisão entre as cidades, o filme trabalha com a fragmentação e dissolução das fronteiras. A pesquisadora Helga Tawil-Souri ressalta como as questões de espaço e território são centrais para o cinema palestino. A autora argumenta que os filmes contemporâneos dão novas formas ao problema dos territórios, mais ambíguas e complexas, como se respondessem à impossibilidade de uma solução justa pela via da divisão territorial tal como ela se apresenta atualmente, arbitrariamente definida por Israel, que mantém uma política constante de desapropriação e expulsão palestina. A problemática da territorialidade está imbricada na própria construção de uma identidade palestina, constituída a partir da luta para reinventar e reescrever a própria história, e está marcada por múltiplos fatores: a expulsão forçada de suas terras e ao mesmo tempo a permanência resistente nas terras ocupadas, o exílio externo e o interno, a mobilidade forçada (a expulsão) e ao mesmo tempo a imobilidade imposta (a proibição de retornar ou de circular entre os territórios). O espaço, tal como experimentado pelos palestinos, é uma negociação constante pelo controle sobre localidades específicas, pela luta para permanecer e possuir terras, pelo desejo do retorno, pelo deslocamento entre territórios, o que implica uma figuração dos espaços que complexifica a simples dicotomia do dentro ou fora, Israel ou Palestina, separados por fronteiras determinadas e territórios demarcados. Ao contrário, a figuração dos espaços chama por fragmentos, (i)mobilidades, disputas e imbricamentos. Dialogando com essa hipótese, veremos como as cidades são problematizadas e ressignificadas pela ocupação dos espaços internos e externos em cada parte. Na primeira parte de Crônica de um desaparecimento, os episódios banais que se desenrolam sem estabelecer relação direta de causalidade estão relacionados à vida da família e a um pequeno universo de vizinhos e amigos, em espaços cênicos arquitetado para manter os poucos personagens restritos a determinados cômodos, ou em enquadramentos que isolam e recortam da paisagem fragmentos de edificações, confinando nosso olhar a pequenas porções do espaço. A segunda parte do filme, desenrolada em Jerusalém, traz para a cena a presença militar, ausente durante toda a primeira parte. A sensação de repressão é constante, transposta na imagem pela presença física dos soldados ou pelos elementos de resistência encontrados na labiríntica e escura casa de Adan, uma jovem e misteriosa mulher que cruza o caminho de E.S. Buscaremos, então, por meio da análise dos quadros e das construções do espaço interno ao plano, identificar o modo como o cineasta torna visível o cotidiano palestino. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O olho interminável [cinema e pintura]. Trad. Eloísa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2004. |