ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Cinema Negro Brasileiro. Existe? |
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Autor | Celia Torres |
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Resumo Expandido | Ngugi Wa Thiong diz que “Quando Noun Bouzid fala que o cinema é mais colonizador que o colonialismo, eu compreendo. A batalha de imagens é mais feroz, a mais implacável e, o que é pior, é contínua”. Proponho o prefácio para início do texto, pois o cinema é um produto que faz parte do processo sócio-cultural e é o local onde encontramos retratado parte daquilo que vivemos. Shohat e Stam (2006) afirmam que “Ficções cinematográficas inevitavelmente trazem à tona visões da vida real não apenas sobre o tempo e o espaço, mas também sobre relações sociais e culturais”. A partir dessa afirmação, podemos pensar que parte daquilo que é produzido em nosso cinema nacional só reforça a situação social do negro brasileiro. A ideia deste trabalho é dialogar as sete regras do Dogma Feijoada com a atual produção cinematográfica sob o rótulo de cinema negro e propor uma reflexão: sobre quais bases ideológica estruturam a concepção desse cinema negro, sempre pensando no cinema de ficção. Um dos primeiros questionamentos sobre o documento Dogma Feijoada se dá em decorrência dessa denominação “cinema negro”, pois somos parte de uma miscigenação cultural, durante todo processo de colonização houve uma “aculturação” do povo brasileiro e diante disso não vejo como não discutir o surgimento de um cinema negro descolado do nosso processo histórico. Barravento (1962), de Glauber Rocha é um dos filmes que permite dialogar com os pressupostos do Dogma e as 7 premissas de realizar um cinema negro, é um filme que surgiu no momento em que a questão social estava em evidência e não houve a tentativa de classifica-lo como cinema negro. O livro de Jefferson De é um dos únicos documentos que ousa tentar e/ou determinar as diretrizes para se construir um cinema negro, pois todos os outros apresentam, assim como esse trabalho, uma proposta de reflexão sobre o tema e não uma resposta clara e objetiva. Em um breve resumo sobre a situação da história do negro no cinema nacional temos; os anos de 1960 e 1970 foram marcados pela forte presença dos negros, como atores, no audiovisual brasileiro, nesse período despontaram atores como Milton Gonçalves, Léia Garcia, Antonio Pitanga, Jorge Coutinho, além de diretores como Zózimo Bulbul. Esse período foi marcado por grandes lutas dos movimentos sociais norte-americanos, foi nesse cenário que surgiu a primeira discussão sobre a possibilidade de existência de um cinema negro em favor da valorização da cultura e da identidade negra, a essência era resgatar raízes culturais, reafirmações através de identidades históricas. Já nos anos 1980 e 1990, o momento político e econômico no país não possibilitou grandes investimento na indústria cinematográfica. A falta de investimento no cinema pode ter afetado diretamente na condição de representatividade do negro ator e diretor, pois o cinema tem um papel crucial na difusão de conhecimento, os filmes influenciam e refletem no modo das pessoas pensarem, se vestirem, trabalha com o imaginário cultural das pessoas. As identidades são construídas a partir de valores culturais, sociais e históricos. Vigotsky (1998) teórico do pensamento sócio interacionista, diz que o meio social é fundamental para desenvolvimento do indivíduo. O ser humano ao nascer é exposto a uma determinada cultura e ela influenciará diretamente na formação desse ser social. Nesse milênio, anos 2000, o cinema apresenta o seu período mais promissor, dando-nos a certeza de que existe uma indústria cinematográfica a serviço do mercado de consumo, e nesse contexto surge com mais expressividade os movimentos em favor do cinema negro brasileiro, pois ainda há uma necessidade de se encaixar e se ver representado dentro de um ideário global (cultural, econômico e religioso). Dos vários autores e teóricos trabalhados, alguns deles (Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Vygotsky, Homi Bhabha) compõem mais detalhadamente minhas reflexões teóricas e serão a base para o desenvolvimento do trabalho |
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Bibliografia | BHABHA, Homi. O local da cultura; tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. – 2. ed. – Belo Horizonte : Editora UFMG, 2001. |