ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Queer, Triunfo, Lixo |
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Autor | José Gatti |
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Coautor | Mauricio Reinaldo Gonçalves |
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Resumo Expandido | Queer, Triunfo, Lixo Este trabalho abordará dois filmes realizados nos anos 1980 que assinalam a presença de protagonistas queer: Onda Nova, de José Antonio Garcia e Ícaro Martins (1983) e A Quinta Dimensão do Sexo, de José Mojica Marins (1984). Os dois filmes foram produzidos no contexto da Rua do Triunfo, na Boca do Lixo, conhecida região da zona central de São Paulo na qual se concentravam, nos anos 1980, produtoras de filmes populares, notadamente as comédias eróticas ou pornochanchadas e que, ao longo daquela década, viriam a se especializar na realização de filmes de sexo explícito. Tanto o filme dos iniciantes Garcia e Martins quanto o do veterano Mojica Marins estão inseridos nesse contexto de produções “independentes,” revelando roteiros, elencos e economias narrativas que abrem espaço privilegiado para cenas de sexo. No caso de Onda Nova, prevalece o estilo softporn, de certa forma dando continuidade ao gênero consagrado da comédia erótica dos anos 1970. Já A Quinta Dimensão do Sexo torna-se campo de conflito entre autor, o conhecido Zé do Caixão, e produtores, que insistiram na inserção de cenas de heterossexo explícito. Os dois filmes, dessa forma, são resultado de complexas articulações econômicas, políticas e simbólicas, em que personagens queer atuam como protagonistas, apontando para “referências trocadas do que se acredita ser masculino e feminino”, como diz Garcia. (in NADALE, 2008, p. 15) Onda Nova é marcado por um tom irreverente desde suas cenas iniciais, em que vemos um jogo de futebol entre um time masculino e outro feminino, com os jogadores vestindo as mais diferentes roupas femininas e algumas das jogadoras ostentando roupas masculinas. O filme passa da comédia escrachada à tragédia, fechando-se em torno do destino de dois personagens gays, antecipando experiências que viriam a se tornar correntes no New Queer Cinema dos anos 1990. A Quinta Dimensão do Sexo, de acordo com depoimento de seu autor, teria como enredo central a descoberta mútua da homossexualidade de seus protagonistas, mas as condições de produção exigiram que o filme incluísse cenas de explícitas de heterossexo, o que resultou num filme híbrido em que de certa forma o bizarro, elemento característico da filmografia de Mojica, aparece de forma peculiar. Os dois filmes, no entanto, terminam em cenas marcadas pela tragédia, com personagens gays que enfrentam a morte ou, no mínimo, futuros ambíguos. Ambos podem ser compreendidos, também, como exemplos de uma certa produção cultural que dava resposta, nos anos 1980, às demandas de representação de grupos sexuais, étnicos e de gêneros subalternos, num contexto de busca de redemocratização da sociedade brasileira, agora a partir de representações que a apresentavam mais multicultural e caleidoscópica. |
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Bibliografia | RICH, B. Ruby. New Queer Cinema: the director's cut. Durham: Duke University Press, 2013. |