ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A Hollywood hispânica na crítica cinematográfica brasileira (1930-35) |
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Autor | Isabella Regina Oliveira Goulart |
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Resumo Expandido | Esta comunicação apresenta um levantamento de filmes em espanhol e português produzidos por Hollywood no início do cinema sonoro, que chamaremos de “versões”, em consonância com o termo usado pela bibliografia que atenta para a existência deste corpus fílmico. Em sua maioria, foram refilmagens em outros idiomas de produções em língua inglesa, aproveitando um roteiro que servia de base e os mesmos cenários, mas empregando, frequentemente, uma nova equipe técnica e artística, e um elenco associado ao idioma falado na versão; entretanto, houve versões originais, não adaptadas de filmes em inglês, sobretudo nos primeiros e últimos anos de sua produção por Hollywood. Enquanto no cinema mudo os letreiros que indicavam as falas poderiam ser facilmente trocados para o idioma local, o filme sonoro, com a cena dialogada, traria a barreira da língua. Países como França e alguns da América Latina resistiram à presença dos filmes em inglês. Os talkies evidenciavam o “imperialismo linguístico” (JARVINEN, 2012) e aumentaram a consciência dos públicos locais em relação à diferença cultural. A refilmagem em outros idiomas foi uma aposta mercadológica da indústria para grupos étnico-nacionais nos Estados Unidos e para países que não falavam inglês, acreditando que elas venderiam melhor do que cópias dubladas (tecnologia ainda experimental) ou com intertítulos (CRAFTON, 1999). Devido ao alto custo de cópias distintas para exportação, Hollywood optou por produzir versões em espanhol, alemão e francês (JARVINEN, op. cit.). As produções em português foram iniciativa isolada da Paramount e circularam em nosso país em número muito inferior aos filmes em espanhol. Além dos estúdios, também o mercado exibidor precisou se adequar à nova experiência de consumo cinematográfico do sonoro, equipando as salas com a tecnologia necessária. Segundo Rafael de Luna Freire (2013), entre 1929 e 1930, o cinema sonoro chegou às principais cidades brasileiras. De dezembro de 1929, quando Sombras Habaneras (Cliff Wheeler), primeiro longa-metragem em língua espanhola produzido por um estúdio norte-americano (a Hispania Talking Film Corp.), estreou no Teatro México, em Los Angeles (HEININK, DICKSON, 1990), a 1935, centenas de versões em espanhol circularam nos Estados Unidos, Europa e América Latina, incluindo o Brasil. Embora haja registro desta produção até 1939, o período 1930-1935 foi o mais contundente deste corpus fílmico. A relação filmográfica proposta neste trabalho inclui as obras cuja produção, circulação ou exibição (dentro ou fora dos Estados Unidos) foi mencionada nos periódicos que compuseram nossa pesquisa historiográfica e aquelas das quais obtivemos dados concretos de exibição no Brasil. Para desenvolver este levantamento, realizamos um mapeamento nas revistas Cinearte e A Scena Muda, e nos jornais Correio da Manhã e O Estado de São Paulo, que resultou numa listagem superior a 50 filmes. A partir deste trabalho, é possível ter uma dimensão dos estúdios que se engajaram na realização destas versões que circularam no Brasil, e dos critérios empregados para sua produção, como os tipos de histórias e gêneros cinematográficos. Ademais, podemos destacar o material humano que protagonizou este episódio: diretores, roteiristas, produtores, fotógrafos, atrizes e atores. As versões trouxeram nova possibilidade de atuação para artistas latinos em Hollywood. Embora a voz os etnicizasse e o sotaque dificultasse que suas identidades nacionais passassem despercebidas (JARVINEN, op. cit.), a latinidade para Hollywood foi baseada em valores físicos e culturais vagos, onde uma complexidade de grupos étnico-nacionais compartilhava um conjunto de atributos que lhes permitia participar da mesma identidade étnica (RODRÍGUEZ, 2008). O mapeamento destas versões nos parece fundamental para identificar estereótipos que começavam a ser construídos neste processo e que seriam empregados nas relações culturais dos Estados Unidos com a América Latina, o que inclui o Brasil. |
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Bibliografia | CRAFTON, Donald. The Talkies: American Cinema’s transition to sound 1926-1931. |