ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Estética, Cor e Direção de Arte em Meu Pedacinho de Chão |
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Autor | Milena Leite Paiva |
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Resumo Expandido | Este artigo apresenta uma análise estética da telenovela Meu Pedacinho de Chão (2014), dirigida por Luiz Fernando Carvalho e veiculada pela Rede Globo de Televisão, com foco no emprego conceitual e técnico da cor nos processos da direção de arte e a sua expressão na visualidade da obra. Considerando o conceito de imagem proposto por Aumont (1993) e os escritos de Block (2010) acerca da construção da narrativa visual em produtos audiovisuais a partir dos processos práticos da produção, analisamos um conjunto de sequências da telenovela que aponta para um uso experimental e original da cor na televisão brasileira. Para fundamentar a discussão utilizamos ainda uma base conceitual oriunda da teoria das cores, conforme a pesquisa desenvolvida por Guimarães (2000). Compreendendo-se que no conjunto dos trabalhos televisivos de Luiz Fernando Carvalho é possível apontar uma prerrogativa de subversão a processos e perspectivas projetivas no contexto industrial da Rede Globo, em sua busca autoral e dialética entre o artesanal e o industrial, definimos como objeto de análise a telenovela Meu Pedacinho de chão, por esta obra representar tanto uma valorização de processos e técnicas artesanais em um contexto de processos industriais da direção de arte quanto pelo seu alinhamento a um apelo televisivo à estetização imagética evidenciado pelo uso ostensivo de recursos de pós-produção digital, tal como de efeitos visuais e de correção da imagem; o que aponta para o caráter interdisciplinar da construção estética no audiovisual. Observa-se em Meu Pedacinho de Chão uma radicalização da visualidade televisiva. Os processos circunscritos ao universo prático da direção de arte são expandidos ao limite expressivo, o que se expressa esteticamente nas imagens. Esta análise será norteada pela concepção de que, sejam estáticas ou em movimento, as imagens ficcionais trazem o registro de um processo de criação pautado na manipulação de materialidades e visualidades específicas para expressar ideias e sentidos particularizados. A investigação foi assim direcionada aos processos conceptivos da imagem circunscritos às prerrogativas de projeto da criação espacial e material da cena no audiovisual, em sua relação estrutural com as dimensões conceptivas da cor, considerando, para tanto, a realização de um mapeamento de processos, conceitos e falas originais destes “lugares” de criação e da análise dos seus desdobramentos no aspecto visual da obra. Buscou-se traçar uma abordagem teórica e prática das diretrizes visuais intrínsecas ao projeto visual de uma produção audiovisual ficcional e da sua expressão nos domínios cromáticos da imagem. No contexto das práticas audiovisuais, a composição da materialidade cênica é estruturada com base em uma paleta de cores conceituada e montada no período da pré-produção e de pesquisa da direção de arte, sempre em diálogo com a direção de fotografia. Esta paleta define o arranjo e a combinação de cores e tonalidades que irão perpassar os elementos cênicos. A partir das cores sugeridas, é possível definir todo o planejamento e o controle cromático de cenários, de figurinos e de maquiagem. Cores que irão definir posteriormente narrativas e sentidos particulares nas imagens. A análise do Meu Pedacinho de Chão é realizada segundo dois direcionamentos cromáticos: o da cor “material” que define a materialidade da cena, e o da cor “imaginária”, resultante da projeção visual desses elementos na imagem a partir do trabalho da fotografia (criação de luz, sombras, tonalidades e planos) e de correção na pós-produção. A visualidade das obras é composta, neste sentido, por um arranjo de cores “imaginárias”, cores pensadas de forma a sustentar a representação ficcional: o universo imaginário da obra, seus espaços, objetos e personagens, enfim, a diegese. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 1993. |