ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Horror, erotismo e violência: prazeres e afetos do feminino monstruoso |
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Autor | Mariana Ramos Vieira de Sousa |
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Resumo Expandido | Certas narrativas cinematográficas são arquitetadas em torno da espetáculos sensoriais extremos, cujo saturação sensual é materializada em corpos femininos em meio a experiências de excitação limítrofes. Em alguns gêneros fílmicos como o horror e a pornografia, tal sistema toma proporções ainda mais excessivas constituindo verdadeiros “espetáculos de vitimização feminina” (WILLIAMS), cumprindo uma agenda que, muitas vezes, perpassa o “simples” entretenimento, perpetuando discursos violentos de conformação destes corpos, mas também construindo possibilidades de fulga para a vivência de suas sexualidades . Pretendo explorar as possibilidades e afetos dos corpos femininos ditos monstruosos (CREED) e/ou abjetos (KRISTEVA), em momentos de performance, a partir da análise dos filmes “A Marca da Pantera” (1982, Paul Schrader), e “Em Minha Pele” (2002, Marine de Van). Em ambos os casos imaginários da pornografia e do horror são ativados simultaneamente construindo sequências em que o excesso fílmico impera, proporcionando experiências cinemáticas extremas que interpelam e perturbam corpos dentro e fora de tela. Nestes filmes mulheres se colocam como espetáculo, fazendo um espetáculo de/com seus corpos, em cenas centradas na violência de uma performance sexual cujas a coreografia é dirigida pelas personagens, uma coreografia de seu próprio prazer. Tais performances excessivas e monstruosas convidam o escrutínio do olhar, chamando a atenção do espectador para algo que, por algum motivo, escapa a trama. Performances de destruição e esfacelamento corporal filmadas com uma sensualidade perturbadora e pulsante, valendo-se das potências da linguagem do excesso, trabalhado a partir uma mise en scene em si mesmo histérica, repleta de elementos de horror e abjeção “pornificados”. Pensar as implicações políticas de um horror que se vale da fetichização do sofrimento e da dor de tais corpos em cenas explicitas de punição, automutilação, violência e extremo prazer. Cenas extremamente ressonantes (PAASONEN), onde desejo e repulsa são inseparáveis, e que nos levam a indagar os limites entre nossas pulsões sexuais, ansiedades e os medos latentes em nossa sociedade quanto ao feminino. O estudo do “horror erótico”, da “pornificação” do horror, e a organização particular da saturação sensorial típica do espetáculo do excesso que nasce com a mistura desses gêneros, nos permite da narrativa fílmica, em busca de espaços de provocação e problematização de um status quo que procura conformar violentamente corpos femininos e negar sua sexualidade. O excesso é, por excelência, aquilo que instiga o espetáculo sensorial, aquilo que chama atenção e convoca a percepção porque não pode ser preso dentro da ordem positivista e prática da função narrativa, tomando, nem que por apenas alguns breves momentos, as rédeas da mise en scène e lhe fazendo explodir em sensações. É através dessas fissuras, dos momentos onde o excesso corpóreo e cinemático explodem em tela e fraturam a narrativa, que transbordam os conteúdos antagônicos que podem nos auxiliar no processo de desconstrução de representações em um espaço de risco e desafio, que, talvez, nos permita traçar um mapa inicial para uma política de resistência para tais corpos. O espetáculo, especialmente o espetáculo do corpo feminino em processo de autodestruição, é exatamente aquela voz que, apesar das pressões externas, das exigências de racionalidade e finalidade narrativa, escapa à normatização e faz de sua presença inesperada o signo último da instabilidade que permeia e constrói o discurso hegemônico. Pensar tais momentos de excesso, performance e suas ressonâncias como espaços de significação que possam nos auxiliar a questionar e desestabilizar as normas que conformam e estigmatizam o corpo, a sexualidade e a própria vivência social feminina, torna-se um imperativo urgente que pretendo averiguar com essa apresentação. |
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Bibliografia | CREED, Barbara. “Horror and the Monstrous-Feminine: An Imaginary Abjection”. In. Screen (1986) 27 (1): 44-71. |