ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Contribuições do atlas para a pesquisa sobre audiovisual e educação |
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Autor | Beatriz Moreira de Azevedo Porto Gonçalves |
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Resumo Expandido | A presente comunicação traz algumas contribuições da proposta de organização de atlas para os estudos sobre cinema, audiovisual e educação, em geral, a partir da metodologia desenhada especificamente para a pesquisa de doutorado, ora em andamento, intitulada Projeção de uma geração: 15 anos de audiovisual produzido em escolas, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio com recursos da CAPES. O objetivo da investigação mencionada é abordar a produção audiovisual realizada em instituições de Educação Básica no Brasil, com um olhar que possa ir além de uma decodificação superficial da mensagem, ou da mera avaliação da composição técnica/estética de cada filme. Tendo como objeto 280 audiovisuais escolares exibidos no Festival do Rio entre os anos de 2000 e 2014, não se poderia também pretender uma análise informada pelos contextos específicos dos processos de produção, ou uma reflexão sobre as experiências pedagógicas de cada grupo realizador. Assumindo um ponto de vista filosófico-antropológico, o projeto visa uma reflexão sobre a memória e as perspectivas do imaginário que circula nos audiovisuais escolares. Para tanto, apropria-se em sua primeira etapa, da proposta curatorial de atlas que o filósofo e crítico de arte Georges Didi-Huberman recupera do historiador de arte Aby Warburg. O atlas geográfico é um tipo de livro, criado entre os séculos XVI e XVII, que consiste numa compilação de mapas. Na concepção Warburg/Didi-Huberman, é uma forma visual de organização, exposição e de construção de conhecimento. Apesar de ser uma coleção de imagens, se diferencia de um arquivo morto por ser uma seleção heurística, guiada geralmente por princípios móveis e provisórios, evidenciando que a memória e a pesquisa científica não são definitivas, nem meramente cumulativas. Elas também operam perdas e escolhas. Ao mesmo tempo, este conhecimento lacunar do atlas coloca à disposição de seus leitores composições visuais que são consultadas com finalidade específica ou que são folheadas “por prazer, deixando divagar, de imagem em imagem e de prancha em prancha, a nossa ‘vontade de saber’” (Didi-Huberman, 2013, p.11). É, assim, uma ferramenta, “não do esgotamento lógico das possibilidades dadas, mas da inesgotável abertura às possibilidades não dadas ainda. O seu princípio, o seu motor, mais não é do que a imaginação” (p.13). A escolha pela metodologia do atlas para uma pesquisa que se debruça sobre a materialidade fílmica de produções escolares leva em consideração que, na escola, também circulam saberes não-verbais e que as imagens ocupam lugar central nas experiências sociais, acreditando que elas podem nos fazer ver o que outras fontes de informação não mostram, sendo um relevante canal de acesso a culturas e práticas sociais. Trata-se ainda, no caso da pesquisa em questão, de compreender o audiovisual escolar como documento/monumento (Le Goff, 1990) - científico, imaginário e de poder - de ideias que permanecem no anacronismo das imagens (Benjamin, Didi-Huberman). A montagem de fragmentos dos vídeos em formato de atlas, ao apontar relações - correspondências visuais, semelhanças ou rupturas - no universo escolar, pretende ser um dispositivo para se pensar dialeticamente no sentido benjaminiano, sobre e a partir de imagens, as instituições de ensino, bem como a política (questões de poder) e as pedagogias (a memória que é cultivada, questionada ou que simplesmente sobrevive) que atravessam o imaginário escolar. |
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Bibliografia | BENJAMIN, W. Sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política. Obras Escolhidas I. Trad. Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985. pp.222-232 |