ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | imagens e violência - cinema em centros socioeducativos |
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Autor | Bruno Paes |
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Coautor | Isaac Pipano Alcantarilla |
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Resumo Expandido | Esta breve apresentação surge da urgência de se pensar as políticas socioeducativas dedicadas aos jovens em conflito com a lei, principalmente após os casos de rebeliões em presídios que eclodiram no início do ano de 2017, apresentando um rastro de violência e descaso. Neste sentido, resgatamos algumas das experiências e relações entre cinema e direitos humanos construídas na primeira e segunda edição do projeto Inventar com a Diferença, em 2014 e 2016. Os jovens que participam dessas unidades de atendimento sociocultural crescem envolvidos sob um regime de violência permanente. De um lado, a violência é associada a um comportamento desviante, que não segue as normas e boas condutas sociais, visível no cotidiano do tráfico, de roubos, homicídios, dentre outras ações. Por outro, ao nos aproximarmos das produções audiovisuais desses jovens, entramos em contato com provocações da percepção de si e do outro, contemplando elementos da singularidade do olhar para as diferenças, se voltando para aqueles que, pelas mais diversas formas, vivem algum tipo de fragilidade em sua comunidade. Neste sentido, propomos um recorte de análise nesta apresentação, focada em três experiências do inventar construídas dentro de instituições socioeducativas: Belo Horizonte, Vitória e Recife. Como destaca Julião (2014), ao pensamos sobre a realidade dos sistemas de privação de liberdade, cujo cotidiano é invisível para a sociedade na maioria de suas ações, nota-se que, ao mesmo com os esforços de certos grupos e entidades organizacionais, como a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a sociedade nunca se preocupou efetivamente com o que ocorre dentro do cárcere ou em uma unidade socioeducativa. Os exemplos avaliativos de sua qualidade são escassos e pontuais, elaborados de maneira autônoma por certas regiões. Os únicos indicadores que chamam a atenção da sociedade sobre o tema são as rebeliões, motins, e/ou fugas. São “dados” que potencializam o discurso do senso comum repressivo, da sociedade de controle e do discurso do “fracasso” social destes indivíduos. Para Butler (2015), podemos dizer que essa população encarcerada é enquadrada (framed) pelos poderes, pela mídia, e mesmo por parte da população de um modo geral, e identificada como a população para qual viver é algo de não muito valioso. Esse enquadramento, cremos, é a um só tempo ético, político e estético, nos aproximando do modo como fala Jacques Rancière. Ele vincula uma cor da pele e um modo de se vestir e falar, uma geolocalização e todo um ethos, a determinada seção da população, indistintamente. Neste sentido, ao lançarmos luzes sobre a produção audiovisual feita nos centros socioeducativos, buscamos a dimensão ética de suas imagens, trazendo o discurso desses jovens por meio da potência de suas narrativas. São exemplos onde, como aponta Boal (2009), oportuniza-se uma experiência emancipatória da/pela imagem, onde elementos que são comumente vistos como ferramentas de reprodução de desigualdades e como canais de opressão, ganham novas cores quando usados pelos oprimidos. As imagens agem como forma de rebeldia e ação, não passiva da contemplação absorta. Já Ranciére (2012) destaca que a construção de uma imagem não parte de uma representação simples da realidade, mas relações entre o dizível e o visível. Assim, interessa trazer para o centro do debate as formas como esses jovens re/apresentam essa realidade “apagada” pela sociedade, apresentando possibilidades sensíveis e subjetivas dentro do sistema. |
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Bibliografia | BOAL, Augusto. A estética do Oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. |