ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Imagens de si e construção social no cinema em língua portuguesa |
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Autor | Maria Beatriz Colucci |
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Resumo Expandido | Este trabalho propõe refletir sobre dois filmes contemporâneos - A toca do lobo, (2015), de Catarina Mourão e A cidade onde envelheço (2016), de Marília Rocha -, relacionando-os aos conceitos de ensaio e etnografia, considerando, com base nas proposições da Teoria dos Cineastas, todo o processo de produção teórica e de realização cinematográfica vivenciado pelas cineastas. Na história do cinema, a tradição do ensaio pode ser vista desde o início do século XX, nos filmes conceituais dos pioneiros russos, Vertov e Eisenstein, se mantendo presente até os dias atuais. Como nos diz Machado (2006, p. 10), especificamente sobre o cinema de Godard: “A única coisa que realmente importa é o que o cineasta faz com esses materiais, como constrói com eles uma reflexão densa sobre o mundo, como transforma todos esses materiais brutos e inertes em experiência de vida e pensamento”. Os ensaios fílmicos se aproximam dos filmes híbridos ou de fronteira, escapando de definições restritas e transitando entre diversos gêneros. Neles, importa o “olhar que o autor do filme propõe (através de recursos próprios ao cinema) a respeito de determinado tema e/ou a sua visão a respeito do nosso mundo (ou seja, o modo como pensa o mundo através dos e nos filmes)” (Penafria, 2009, p. 81). Sobre o ensaio no cinema, tema de largo lastro teórico, duas publicações recentes, de Franciso Elinaldo Teixeira (2015) e Timothy Corrigan (2015), trazem elementos para discussão. Teixeira defende que os ensaios fílmicos devem ser vistos de forma mais específica, como um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea, ao lado das ficções, dos documentários e dos filmes experimentais. Para ele, há, na construção do cine-ensaio, “uma singularidade que põe em relevo a subjetividade pensante do ensaísta, que o expõe em carne e osso enquanto faz de si e de suas matérias fílmicas um experimento” (Teixeira, 2015, p. 178). Corrigan, da mesma forma, discute que o ensaio fílmico requer um modelo de análise mais apropriado à sua configuração específica de subjetividade e experiência. Porém, o que este autor considera mais interessante no ensaio é, sobretudo, “a maneira como perturba e complica essa própria noção de expressividade e sua relação com a experiência, a segunda pedra angular do ensaístico”, exigindo um constante repensar e refazer do ‘eu’. (Corrigan, 2015, p. 38). A cidade onde envelheço (2016), de Marília Rocha, dialoga com essa noção de ensaio. Este foi, aliás, o tema de sua dissertação de mestrado, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais. Para a pesquisadora, assim como diz Corrigan, os ensaios fílmicos reafirmam a importância da experimentação e ultrapassam os limites estritos de um “eu unitário, definido e individual” para chegar a uma “dimensão de exterioridade, pluralidade, diferenciação” (SIQUEIRA, 2006). Para discussão sobre a etnografia no cinema, buscamos apoio no filme de Catarina Mourão, A toca do lobo (2015), que parte das investigações feitas para seu projeto de doutoramento na Universidade de Edimburgo, transformando-se depois num documentário sobre sua própria família. A ideia do filme se coloca quando, entrevistando as pessoas sobre os seus sonhos, a pesquisadora incluiu como parte da pesquisa as pessoas mais próximas, inclusive sua mãe, que lhe conta um reencontro com o pai dela, o escritor Tomaz de Figueiredo – autor do livro que dá nome ao filme –, numa sessão de hipnose. Posteriormente, o encontro com imagens de arquivo do avô detona o processo de construção da narrativa, que incorpora a voz da cineasta como fio condutor. O investigador se apresenta, aí, como “intérprete e construtor de situações socialmente enquadradas”, colocando-se o registro documental “numa proposta de trabalho flexível, integrando pistas de pesquisa emergentes a partir das relações imediatas que são desenvolvidas nos contextos sociais estudados” (Veloso, 2006). |
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Bibliografia | CORRIGAN, Timothy. O filme ensaio: desde Montaigne e depois de Marker. Campinas/SP: Papirus, 2015. |