ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A imagem política em Leona Assassina Vingativa: três suspeitas |
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Autor | Álvaro Andrade Alves |
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Resumo Expandido | A principal tarefa a ser realizada por um investigador de cinema hoje, segundo a crítica e pesquisadora Nicole Brenez, é tentar descobrir, entre os filmes feitos por pessoas comuns e publicados na internet, "novas formas de expressão". É ela também quem dá as pistas para uma aproximação desse material, ao entender como "artes fílmicas" tanto o "cinema, no sentido tradicional, mas também de vídeo e digital". Isso possibilita olhá-lo – tendo em conta suas especificidades – através de modelos de análise pensados inicialmente no campo do cinema. A partir dessa provocação e da compreensão de "práticas artísticas" como "maneiras de fazer que intervêm na distribuição geral das maneiras de fazer e nas suas relações com maneiras de ser e formas de visibilidade", (RANCIÈRE, 2005: 17), proponho pensar acerca da imagem política (MIGLIORIN, 2011: 17) em Leona Assassina Vingativa, conjunto de vídeos amadores feitos por adolescentes da periferia de Belém (PA) e publicados no YouTube em 2009. A potência destes pequenos filmes parece concentrar-se justamente na possibilidade de desestabilizar o campo do audiovisual, ao pôr em xeque noções que estão na base de sua compreensão, como a de autoria, de diálogo consciente com uma tradição e de intencionalidade artística. Criada por iniciativa de Leona, então com 11 anos, os vídeos têm mais de 3 milhões de visualizações e foi um dos webhits daquele ano. São uma paródia do que seriam os capítulos finais de uma novela, um jogo filmado com precariedade e improviso, e os atores são jovens meninos gays e de periferia, a maioria negros. Sujeitos "excluídos pela ordem que produz não-imagens que tanto reforçam as significações do mundo" (MIGLIORIN, 2011: 15), representando sobretudo personagens femininas. Se entendemos, com Rancière, a política como “uma intervenção sobre o visível e o enunciável”, a força dessas imagens residiria nessa capacidade singular de intervir sobre um repertório já codificado de signos visuais e sonoros, desafiando preconceitos e rompendo com a invisibilidade imposta pelos meios hegemônicos. Para falar do que seria uma espécie de imagem necessária, o pesquisador Cezar Migliorin lança mão da ideia da existência de uma dignidade fílmica, do crítico de cinema Serge Daney. Esse conceito nasce de "uma crença na imagem e na possibilidade de o cinema fazer-se político no gesto de fazer uma imagem", em um mundo repleto de clichês no qual faltam imagens, apesar do seu crescimento exponencial nos espaços e mídias (MIGLIORIN, 2011: 15). A essa imagem buscada, Migliorin dá o nome de “imagem política", conceito chave da proposta. No entanto, é partindo da noção de engajamento que surge um modelo no qual é possível visualizar mais claramente o fenômeno empírico escolhido. O engajamento percebe o presente em sua possibilidade de tensionar sua própria mudança. O que há de real é essa mistura de desejo e variação na fabricação do mundo, já independente da veracidade ou da centralidade de uma ordem narrativa, de um personagem ou comunidade, dando à noção de engajamento uma dimensão coletiva e social e não exclusivamente individual (MIGLIORIN, 2011: 18). Esse engajamento se ativa, por assim dizer, nas figuras do engajamento. Migliorin as define como centralidades ou tendências dentro dos filmes que podem ser classificadas como "modos de conectar tempos e forças e inventar intensidades de variação do presente com sujeitos e comunidades frequentemente assujeitados pela ausência ou invariabilidade da luz que os toca". O autor identifica quatro modos, ou figuras, das quais apenas uma interessa a esta proposta, as figuras da ficcionalização. Essa proposta usa o conceito de figuras do engajamento pelo prisma de três hipóteses: a da ficcionalização, já pensada para documentários, e outras duas - as do improviso e da paródia - que todavia não se pode chamar assim, mas que parecem servir a esta análise e talvez sirvam de aporte para pensar, de modo incipiente, o engajamento na ficção como um todo. |
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Bibliografia | BRENEZ, N. "Cada filme é um laboratório" – Entrevista com Nicole Brenez. Revista Cinética. Disponível em: http://revistacinetica.com.br/home/entrevista-com-nicole-brenez/. Acesso em 7 set. 2015. |