ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Cleópatra de Júlio Bressane: A Voz, o Incarnado |
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Autor | Adriano Carvalho Araújo e Sousa |
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Resumo Expandido | Proponho analisar de que maneira o cinema interage com literatura e pintura no projeto maior de tradução em Cleópatra (2006) de Júlio Bressane. Pretende-se utilizar a noção de argumento da literatura (Frenzel: 1976) para perguntar que tipo de perspectiva do cinema como envolvimento com outros sistemas de signos e cartografias da cultura se desenvolve nesse filme.
Para problematizar encontros e interações de sistemas de signos, a análise tem como ponto de partida as contribuições teóricas de Haroldo de Campos quanto ao processo de tradução entendido como transcriação (Campos: 1992), bem como o aporte de Henri Meschonnic (2010), com sua ideia de uma poética do traduzir. Assim, o longa-metragem põe em foco uma série de imagens da rainha do Egito no cinema e na cultura. Utiliza-se de procedimentos imagéticos e textuais que transpõem a figura de Cleópatra como um tema reproduzido e recriado em séries culturais, não um texto específico, mas um argumento da literatura. O próprio Júlio Bressane refere-se em depoimentos que se trata de uma versão trágica e lírica em português, idioma no qual o argumento é pouco referido (CLEÓPATRA: 2008). Nesta análise proponho pensar o filme a partir de dois momentos: o ápice intelectual vivenciado com César; e o abismo dionisíaco ao lado de Marco Antonio. Desses dois momentos, decorre a composição de uma iconografia pictórica e cinematográfica. Por outro lado, é o próprio entendimento de Bressane quanto ao cinema como algo inexplorado que a operação da linguagem ressalta. O primeiríssimo plano de tecidos surge com uma imagem desencontrada do áudio. O plano fixo e a profundidade de campo ajudam a dar o tom e o ritmo, ao mesmo tempo, oferecem uma diagonalização paródica dos atores. A voz dos atores e a luz da fotografia levam imediatamente a pensar o cômico, mas também o gesto, o incarnado em pintura (Didi-Huberman: 2012). O aspecto cômico reverbera imagens de cinema que vão de intérpretes como Theda Bara (1917) até Elisabeth Taylor (1963). O gesto das pinturas e a plasticidade dos tecidos ajudam a compor a visualidade do filme. |
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Bibliografia | BRESSANE, Júlio. Fotodrama. Rio de Janeiro: Imago, 2005. |