ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O(s) fragmento(s) – adaptação audiovisual, memória e referência |
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Autor | MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ |
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Resumo Expandido | Em 2017 a diretora Claire Denis lança o filme Des Lunettes Noires, adaptação do fragmento de mesmo nome do livro de Roland Barthes, de 1978, intitulado “Fragmentos de um Discurso Amoroso”. O texto e suas inúmeras referências às narrativas construídas sobre o objeto do amor, enquanto discurso, é fonte de inúmeras adaptações e apropriações, sejam elas na forma de produções literárias, montagens teatrais ou obras audiovisuais. O trabalho aqui proposto surge do encontro da elaboração conceitual proposta por nós de “espiral de referências”, que dá conta da relação entre adaptação literária para o audiovisual e a sua interação com a memória, e as duas obras audiovisuais recentes que adaptam o texto fonte supracitado. A análise de Lover’s Discourse (Hong Kong, 2010) e Des Lunettes Noires (França, 2017) se torna crucial, então, para entender de quais formas as referências fragmentadas da narrativa de Barthes encontram seus caminhos para as telas e interagem com o que Barthes chama de “irreal” e as suas construções no campo do real: no campo do discurso, da narrativa e das referências imagéticas geradas pela leitura audiovisual dos fragmentos. A relação entre o audiovisual e a literatura é objeto de inúmeros debates em suas respectivas áreas, redundando em caminhos que por vezes estreitam e, por outras, tencionam os laços entre estas artes e suas obras. Os campos da Comunicação, das Letras e da Linguística buscam delimitar seus espaços nesses diálogos, elaborando questionamentos que irão caminhar sobre essas tensões, reconhecendo as trocas possíveis e, aos poucos, buscando compreender processos contemporâneos de interações intertextuais e inter-midiáticas. Em seu livro Muito além da adaptação (2012), Adalberto Müller realiza um debate a partir do agenciamento das produções teóricas de autores contemporâneos interessados nos processos intrínsecos às relações entre as artes, como Robert Stam e Jesus Martín-Berbero, o autor constrói uma breve trajetória destes estudos. Este trabalho surge do desejo de participar deste debate, propondo questões inerentes aos estudos do cinema e da literatura, através da percepção das potencialidades dos produtos midiáticos que são oriundos deste contexto. Distanciando-nos de uma perspectiva depreciativa da troca entre as artes, buscamos compreender as potências presentes nestas relações, no que tange possíveis mudanças, atualizações e permanências. Pretendemos, então, observar e analisar as dinâmicas que se desenham entre obras fonte e suas múltiplas versões – adaptações e apropriações - em um contexto de trocas inter-midiáticas, intertextualidades, gerando referências e citações, em um espectro amplo de possíveis interpretações e trocas. Buscamos compreender, também, quais as especificidades do espectador/leitor no que diz respeito à sua subjetividade intertextual e interpretativa com o texto e com a tela, com as palavras e as imagens. Partimos da premissa que múltiplas versões de um texto fonte vão oferecer as mais diversas referências de imagens e de narrativas inseridas em seu específico contexto adaptativo. Entendemos também, que o sujeito que entrar em contato com estas palavras e estas imagens, o leitor/espectador, estará realizando um processo intensamente subjetivo de interpretação, relacionando seu arcabouço de referências com a experiência atualizadora, concretizando possíveis citações e identificações através de uma experiência de memória. No caso especifico do livro de Barthes, gostaríamos de compreender de que forma interagem as narrativas audiovisuais das adaptações, e as referências encontradas na narrativa fragmentada do texto fonte. Barthes constrói verbetes para definir discursos que criam definições tangíveis para o que é abstrato. Propomos que essa concretização, uma vez nas telas, dá-se de forma espiralada, através das citações e referências que podemos reconhecer nas obras, subjetivamente. |
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Bibliografia | Barthes, Roland. A lover's discourse: Fragments. Macmillan, 1978. |