ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Notas para um cinema de ocupação |
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Autor | Pedro Loureiro Severien |
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Resumo Expandido | No Recife, as ações de articulação política, mobilização social e ativismo midiático protagonizadas pelo Movimento Ocupe Estelita tem na produção audiovisual um instrumento de partilha do sensível (RANCIÈRE, 2009). Em maio de 2014, a ocupação física do cais José Estelita – um terreno público no centro histórico da cidade vendido de forma irregular a um consórcio privado –, promove encontros que potencializam a formação de coletivos audiovisuais emergentes. Estes grupos realizam de forma autônoma uma série de filmes sobre o direito à cidade e outros aspectos ligados às relações de poder no espaço urbano. Construo esta pesquisa a partir de um processo de experimentação (DELEUZE, GUATTARI, 2011) – participei diretamente da realização desses filmes de autoria compartilhada. Nesta perspectiva, o Ocupe Estelita funciona como uma espécie de personagem conceitual (DELEUZE, GUATTARI, 1992) que me permite olhar para esse trajeto e operacionalizar teoricamente o que designo como um cinema de ocupação. A questão primordial para esta investigação é, portanto, cartografar processos colaborativos desta criação audiovisual conectada ao movimento social em seus processos de territorialização, desterritorialização e reterritorialização (DELEUZE, GUATTARI, 2011). Nesta pesquisa, não almejo mensurar um indeterminado poder efetivo dos filmes na disputa política. Mesmo que pudéssemos formular um método para verificar tal poder de impacto na realidade social de uma determinada disputa, dificilmente passaríamos do exercício estático de leitura de um presente-passado com uma aspiração ingênua de futurismo. Afinal, a disputa política se faz em uma dimensão de incontáveis e incontroláveis variáveis, na qual cada passo de uma das peças do xadrez modifica potencialmente os posicionamentos não só das outras peças quanto do próprio tabuleiro. Sendo assim, escolhi olhar para o impacto dessas peças audiovisuais selecionadas a partir da minha própria inserção no processo de produção para em primeira instância investigar essa performatividade (BUTLER, 2015) da própria pesquisa. Em uma segunda instância, irei articular esse procedimento interno com a aplicação da metodologia de grupos focais para observar como esses dois pólos – um interno e outro externo – dialogam. De um lado, trago a forma como a experimentação de realização audiovisual se configura em um contexto onde as subjetividades em jogo histórico me atravessam, quais são essas linhas de força e como percebi suas vibrações. E em outra esfera, essa exterior, como esses filmes impactam nas subjetividades dos diferentes grupos aos quais essas peças serão expostas ao longo da pesquisa. Um terceiro viés desta investigação articulará um exercício de constelação de imagens (DIDI-HUBERMAN, 2013) de forma que um outro grupo de pessoas construirá um painel associativo e relacional a partir do páthos ativado por cenas contidas nessas produções. O que proponho é portanto uma possibilidade de leitura compartilhada que inclui no caminho necessariamente sinuoso da pesquisa elementos de uma reflexão sobre o sentido, a representação, a presença, a performatividade das imagens e dos sujeitos implicados em suas elaborações. Com o transbordamento de uma aparente dicotomia – o dentro e o fora – proponho uma perspectiva expansiva de uma abordagem dos acontecimentos, uma espécie historiografia afetiva, associada a uma coleta de dados subjetivos e um conhecimento associativo. É da fricção entre a minha vivência, uma mobilização conceitual, uma análise dos impactos subjetivos e de um conhecimento associativo a partir dos grupos focais que construirei a apresentação dos resultados preliminares deste estudo no seminário. |
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Bibliografia | BUTLER, Judith. Notes Toward a Performative Theory of Assembly. Cambridge (EUA), Londres (ING): Harvard University Press, 2015. |