ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Em busca dos “Zés-ninguém”: Individuação no cinema de Jia Zhangke |
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Autor | Ítalo Rocha Viana |
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Resumo Expandido | Ao ser questionado sobre sua opção de filmar “zés e marias-ninguém”, o cineasta chinês Jia Zhangke argumentou certa vez que esta indagação, em si, já carregaria um problema. Em sua concepção, o termo “zé-ninguém” pressupõe a afirmação de que haveriam pessoas especiais, enquanto outras não (FRODON; SALLES, 2014). Se sua filmografia pode ser abordada por diversos aspectos, um elemento central que permeará o conjunto de sua obra é a busca por individuações em detrimento do esvaziamento midiático engendrado pela cultura do espetáculo. “Como passar do indivíduo à massa? Questão política. Como passar da coletividade ao sujeito? Questão cinematográfica” (Comolli, 2007, p. 128). Este questionamento marca centralmente o gesto estético-político do cineasta chinês. Em um cinema que aposta na duração acerca de seus personagens, a obra de Jia Zhangke dá a ver singularidades em meio às macro-transformações que atravessam a China atual. Sua obra combina uma linguagem sensorial, com planos prolongados, sons defasados, um tom meditativo, enfatizando o espaço próprio da relação filmada, e uma reflexão mais ampla sobre o tempo, as mudanças, seja através de um extra-campo que tensiona o cotidiano (In Public) seja de modo mais explícito ao deflagrar na imagem as transformações da sociedade chinesa (24 City). Apontando para um presente cristalizado, um constante devir, a filmografia de Jia Zhangke torna sensível a alienação do mundo contemporâneo. Em meio aos escombros do capitalismo chinês extremamente desenvolvido, a distopia de um presente estranhado ganha forma nos corpos, expressões, deslocamentos, histórias de indivíduos cindidos por uma constante defasagem temporal (VIEIRA Jr, Erly M., 2013). A proposta desta comunicação consiste em aprofundar uma análise sobre a linguagem de que se vale Jia Zhangke em sua obra a fim de efetivar individuações no cinema. Em suas próprias palavras, “[...] poderíamos chamar os personagens de meus filmes de “não detentores do poder”, “não peixes grandes”. [...] por que criar um mundo artificialmente dramático quando fazemos um filme?” (FRODON; SALLES, 2014, p. 146). É na contra-mão do progresso midiático que analisaremos aspectos de seus filmes In Public (2001), Dong (2006) e 24 City (2008), com o intuito de refletir sobre questões como o estranhamento e as temporalidades do mundo que nos cerca. |
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Bibliografia | BRAGANÇA, Felipe. “Sentimento do real, imaginação da história: seis perguntas para Jia Zhang-Ke”. In: Revista Cinética, 2007c. Disponível em: , acesso em 05/03/2017. |