ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Oficina de cinema com mulheres |
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Autor | Maíra Norton |
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Resumo Expandido | Segundo o último relatório emitido pela Ancine, das 2.583 obras cadastradas na agência em 2016 apenas 17% foram dirigidas por mulheres, sendo 75% dirigidas por homens e 8% direções mistas. A diferença permanece no roteiro, onde 21% dos filmes foram escritos por mulheres, 67% por homens e 12% misto. Se a discrepância de gênero é alarmante, quando adotamos uma perspectiva interativa entre raça e gênero os dados são estarrecedores. O único longa-metragem de ficção dirigido por uma mulher negra dentro da história do cinema nacional foi Amor Maldito, de Adelia Sampaio em 1984. Pesquisas do GEMAA/UERJ apresentam um exame detalhado das representatividades dos grupos sociais na produção cinematográfica, mostrando que entre as produções nacionais de maior bilheteria dos últimos dez anos, mulheres negras representaram apenas 4,4% do elenco dos principais filmes de longa-metragem. As mulheres brancas ocupam cerca de 34% dos personagens principais e embora tenham uma maior representatividade, não estão livres dos estereótipos de gênero e da hipersexualização. Como afirma Geena Davis, "quanto mais filmes e programas de TV uma garota assiste, menos opções ela pensa que tem na vida". O Teste Bechdel-Wallace aponta a enorme dificuldade em encontrar filmes em que pelo menos duas mulheres que tenham nomes e conversem entre si sobre um assunto que não seja sobre um homem. O movimento feminista e a luta das mulheres por igualdade de direitos vêm crescendo nos últimos anos. Dentro do cinema também podemos perceber uma maior organização para enfrentar essas desigualdades, seja através de coletivos de mulheres realizadoras, cineclubes voltados para exibição de filmes dirigidos por mulheres, coletivos de mulheres críticas de cinema, em ações como editais especiais para mulheres e paridade de gênero na comissão de seleção do Fundo Setorial Audiovisual. Diante das desigualdades na realização e a sub-representação das mulheres no cinema, é preciso refletir sobre o impacto dessas imagens na construção de sujeitos, principalmente nos espaços educativos em que atuam a maior parte dos projetos de cinema e educação. De que maneira o debate sobre gênero se apresentam dentro do campo de cinema e educação, na elaboração das propostas de oficinas, na seleção dos filmes que são exibidos, na divisão das tarefas das equipes no momento da realização de exercícios práticos? Comecei a indagar sobre essas questões a partir da produção e organização do Cine Mulher, o cineclube do Coletivo Feminista MAR, de Paraty e quando fui convidada a oferecer pela Casa da Cultura de Paraty uma oficina de cinema que trabalhasse gênero com os jovens. O desafio me trouxe o questionamento sobre o quanto o debate de gênero havia passado de forma desapercebida pela minha trajetória de educadora audiovisual em diversas oficinas e projetos. E junto a essa constatação, o desejo de refletir sobre as possibilidades de abordagem de gênero não apenas na apreciação dos filmes e no debate sobre representatividade dos personagens, mas também na elaboração de dispositivos que poderiam fazer emergir experiências de sororidade e fortalecimento das mulheres. Buscamos pesquisar sobre as possibilidades e maneiras de se trabalhar a desigualdade de gênero dentro das oficinas de cinema, não só na representatividade feminina nos filmes exibidos, mas também na elaboração de dispositivos que possibilitem trazer à tona estas questões. Temos por objetivo mapear e refletir sobre as experiências de oficinas de cinema feministas que vem se ampliando no cenário nacional. Quais suas metodologias, locais de atuação, filmes que exibem, filmes que produzem, perfil das alunas e das educadoras |
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Bibliografia | CANDIDO, Marcia Rangel; CAMPOS, Luiz e FERES, João. A cara do cinema nacional: gênero e raça nos filmes nacionais de maior público (1995-2014). GEMAA, n.13, 2016, pp1-20 |