ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Roberto Rossellini: em direção a um cinema experimental |
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Autor | Nikola Matevski |
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Resumo Expandido | Na virada entre as décadas de 1950 e 1960, Roberto Rossellini buscava dar novos rumos ao seu cinema. Entre a viagem à Índia, em que redescobria certa inocência do olhar em “India Matri Bhumi” [1959], e “Era Notte a Roma” [1960], o primeiro filme da história do cinema rodado em toda sua extensão com uma lente zoom, tratava-se para Rossellini de responder de maneira própria aos problemas daquele momento histórico e encontrar para eles uma nova formulação artística. Quando as discussões em torno do realismo, em que a filmografia precedente de Rossellini era ponto central, passavam a ser sucedidas pelo interesse renovado em torno da natureza da imagem e dos métodos de reflexividade, o já veterano cineasta italiano desencantava-se com o cinema e lhe declarava morte em uma entrevista. Os colegas realizadores, segundo Rossellini, teriam se rendido a praticar uma arte da reclamação, da constatação das crises do indivíduo e das angústias do mundo moderno, enquanto investiam em suas ambições e carreiras artísticas. A esse diagnóstico, Rossellini responde com um projeto pedagógico voltado para a sociedade, adotando a televisão como meio privilegiado. No entanto, para além de uma cronologia, nesta comunicação iremos encontrar na elaboração deste projeto pedagógico também uma redefinição do entendimento epistemológico do aparelho do cinema por Rossellini. Sua busca da libertação do cinema, privando-lhe aquilo que é acessório e decorrente dos apelos a uma retórica exterior e simbólica, leva a depurações e simplificações formais que encontram uma nova sustentação estética, econômica e política. Poderíamos entendê-la, por um lado, como um regresso a um modo primitivo do cinema; preferimos, para esta ocasião, no entanto, procurar entre as realizações de seus contemporâneos atitudes que apontam para esse mesmo caminho. Assim, como sugere Adriano Aprà, encontramos um cinema ensaístico ou experimental (e que Rossellini conheceu em primeira mão, por exemplo, quando num domingo à tarde de 1967 visitou a Film-Makers Cinematheque em Nova Iorque, acolhendo com entusiasmo, como testemunhado por Jonas Mekas, Window Water Baby Moving [1959], de Stan Brakhage). À primeira vista, é compreensível que o cineasta, que constituía uma proposta utópica de cinema pedagógico em torno do conceito de autópsia, encontre afinidade com o artista que nomeou um filme com o sentido etimológico de tal palavra: ver com os próprios olhos [The Act of Seeing with One's Own Eyes, 1971]. Evidentemente, os filmes televisivos de Rossellini resguardam diferenças profundas da trilogia de Pittsburgh de Brakhage, mas encontram respostas particulares a partir de uma problematização similar. Do mesmo modo, experiências em torno do cinema estrutural não são totalmente estranhas a um filme como “Beaubourg, centre d’art et culture Georges Pompidou [1977]”. A movimentação de câmera operada por Rossellini neste filme jamais encontra a tensão ascendente e a temporalidade métrica do zoom de Michael Snow [Weavelength, 1967], mas a atividade interessada e contemplativa do olhar – analítica, mas descentrada –disputa com a realidade a primazia do acontecimento (e também da montagem). A investigação ativa desse olhar torna-se mais abstrata na proporção da arbitrariedade da locomoção, como se buscasse a conclusão do pensamento que, ao contrário dos filmes pedagógicos, aqui encontra-se hesitante ou ausente. Nesta comunicação, entendendo o cinema de Rossellini como formulação epistemológica, investigaremos seus pontos de aproximação com algumas práticas do cinema experimental tomando como objeto de referência o filme “Beaubourg, centre d’art et culture Georges Pompidou [1977]”. |
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Bibliografia | APRÁ, Adriano. Enciclopédia histórica de Rossellini. In: Roberto Rossellini e o cinema revelador. Lisboa: Cinemateca Portuguesa, 2007. |