ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Cinéma beur: as impressões iniciais do movimento pela crítica francesa |
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Autor | Ryan Brandão Barbosa Reinh de Assis |
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Resumo Expandido | A década de 1980 traz consigo uma modificação no modo como os imigrantes magrebinos são retratados nas produções cinematográficas francesas, graças, principalmente, à emergência de um conjunto de filmes que viriam, por sua vez, a integrar um movimento conhecido como cinéma beur. O termo beur significa árabe em verlan, uma maneira de se expressar em língua francesa, sobretudo entre os mais jovens, que é caracterizada pela inversão da posição das sílabas das palavras. Dessa troca, inclusive, advém a origem do seu próprio nome. Afinal, l’envers se torna verlan caso a pronúncia da última sílaba for dita anteriormente. Conforme assinala Sylvie Durmelat (1998), o termo beur se fortifica, em Paris, no final da década de 1970, como um modo positivo de autodesignação para a população de origem norte-africana que tinha nascido ou vivia, desde muito pequena, no país europeu. No entanto, ele aparece, publicamente, pela primeira vez, com a fundação, em 1981, da Radio Beur. Por sua vez, a nomenclatura foi recuperada, pela imprensa, dois anos depois, quando da Marcha pela Igualdade e contra o Racismo, que foi apregoada, na época, como Marcha Beur. Logo, conforme preceitua Alec Hargreaves (1995), ainda que a expressão tenha, atualmente, um amplo campo de utilização, o seu uso como marcador de um movimento político e identitário é o mais significativo dentro da língua francesa. Carrie Tarr (2005) e Will Higbee (2014), por sua vez, relatam que a produção cinematográfica beur faz referência às narrativas dirigidas pelos profissionais de ascendência magrebina, com protagonistas jovens de mesma origem e que são dominadas por temáticas como as da delinquência, integração, identidade, pertencimento e racismo na sociedade francesa. O filme marco dessa produção é Le Thé au harém d’Archimède, adaptação do romance autobiográfico do cineasta Mehdi Charef, sobre as experiências vividas por ele, imigrante argelino, nos subúrbios parisienses. Conforme assinala Will Higbee (2014), o longa obteve 171.221 espectadores, apenas em Paris, e 516.487 em todo o território [550.000, de acordo com Abbas Fahdel (1990)] quando do seu lançamento nos cinemas. Possivelmente, as discussões críticas mais substanciais a respeito do movimento conhecido como cinéma beur podem ser encontradas nas edições especiais das revistas Cinématographe (1985) e CinémAction (1990), que foram, em grande parte, dedicadas a esse conjunto de filmes até então recém identificados. Além de filmografias extensas e de entrevistas com cineastas e atores de origem norte-africana, ambas as publicações ofereceram uma análise das temáticas e dos aspectos estéticos compartilhados pelas obras beurs que surgiram durante os anos 1980. O objetivo principal pareceu ser então apresentar as produções desses diretores a um público mais amplo, consolidando, assim, a sua posição dentro da indústria cinematográfica francesa. Dessa maneira, no presente trabalho, a partir de uma reflexão sobre o significado da terminologia cinéma beur – que, de antemão, apontamos que não ficou imune às críticas – avaliaremos o conteúdo das referidas publicações e a importância delas apresentarem, ao seu público, um movimento, até o momento, pouco explorado pelas demais revistas especializadas em cinema no país, mas que se destaca, sobretudo, por fazer referência a questões sociopolíticas da época, que continuam bastante atuais. |
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Bibliografia | CINÉMATOGRAPHE, nº 112 (Cinéma Beur), juillet, 1985. |