ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A beleza que petrifica e a imagem como devir: de Kafka a Sokurov. |
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Autor | Marcelo Monteiro Costa |
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Resumo Expandido | Uma imagem capaz de evocar o divino e o demoníaco, a graça e o infortúnio, a serenidade e a incerteza, e que portanto encarna imagisticamente a beleza inquietante. Isso nos leva à uma incursão na dimensão do imaginário a partir do cinema de Aleksandr Sokurov, um autor de filmografia peculiar e incomum, de difícil ancoragem e catalogação, justamente por tornar movediço o normalmente sólido e consistente terreno da representação. Ao propor uma quebra, sem qualquer aviso prévio, com o simbólico, o cinema de Sokurov nos lança num planeta que gravita com leis próprias, imprevisíveis e desconhecidas, ainda que se valha de referenciais clássicos e modernos (no sentido das artes plásticas, sobretudo a pintura) na sua composição visual. Esse apelo e gosto visual pela imagem, inclusive, coloca o cinema de sokúrov num campo de oposição à ideia de um cinema filosófico construído sob a renúncia das imagens. O objetivo aqui é restabelecer e repensar, portanto, a relação do cinema com as imagens, dentro de uma fenomenologia que redimensiona o papel do imaginário e do devaneio poético como devir psíquico, expansão da consciência e energia criadora. Refutando assim uma tendência iconoclasta que vê as imagens como fonte do erro e do ilusório, do que não é verdadeiro. Ou ainda como a simples manifestação de um arquiteto calculista e ilusionista, tal o Apolo de Nietzsche, que despotencializa a experiência sensível. Ao lançar mão do devaneio poético como fonte inspiradora de imagens visuais e sonoras, também admitimos a potência num processo em que a participação consciente se faz necessária; desfazendo assim uma visão excludente em que potência e inconsciente desfrutavam de uma relação condicional e inextricável. Outro traço marcante na filmografia de Sokurov é a capacidade em construir atmosferas, presenças, sensações e afetos de difícil classificação. É nesse sentido, que vislumbramos semelhanças com a obra de Kafka, um escritor que (e)videncia imagens inspiradoras de beleza e horror, e é capaz de nos lançar em atmosferas aterradoras, também com leis gravitacionais próprias; reforçando assim a ideia do devir enquanto forma, ou como propõe Deleuze, uma literatura menor. Um método através do qual uma potência imaginativa, ou uma imagem poética, destemida e irascível, impõe-se à participação consciente e apolínea na busca por uma forma capaz de preservar sua potência. É nesse sentido que a ideia de uma beleza gorgônea, identificada por Günther Anders em sua análise sobre Kafka, parece relevante; uma beleza que provoca fascínio, mas quando encarada nos olhos, petrifica. |
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Bibliografia | ANDERS, Günther. Kafka: pró e contra - os autos do processo. 2ª. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2007. |