ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Professores e Cineastas: a escola indígena sob o risco do cinema |
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Autor | Samuel Leal Barquete |
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Resumo Expandido | Propõe-se abordar a relação entre cinema e educação a partir da experiência do Ponto de Cultura Apowẽ, centro comunitário indígena localizado na aldeia xavante Wederã, Terra Indígena Pimentel Barbosa, estado do Mato Grosso. Este Ponto de Cultura está intimamente ligado à Escola Estadual Indígena de Ensino Básico Etenhiritipá e à Associação Aliança Povos do Roncador, formando um complexo jurídico-institucional por meio do qual a comunidade acessa recursos financeiros e materiais para desenvolver atividades artísticas e culturais, além de viabilizar projetos relacionados ao manejo ambiental e gestão territorial. A Escola, o Ponto e a Associação são também as vias de estabelecimento de alianças com pessoas de fora da T.I., notadamente não-indígenas que ocupam lugares e desenvolvem atividades estratégicas para os interesses da comunidade, como universidades, órgãos estatais e ONGs. O Ponto de Cultura e a Escola em Wederã são instituições próximas na vida da aldeia e compartilham mais que o espaço físico. Trata-se de uma relação que extrapola o aspecto formal e os conecta enquanto lugares de produção de comunidade num sentido amplo. Pensando com Cezar Migliorin, entende-se essa comunidade como “um pertencimento e uma abertura, um fazer-se e um desfazer-se, uma centralidade e um desgarramento”, o que implica pensar “a educação como um forte operador na constituição e na abertura de comunidades (2015, p.194). Tal abordagem interessa pela dimensão ativa conferida à educação e sua potência de mobilizar relações de grupo. Trata-se de uma inversão da hierarquia pedagógica estatal, pressuposta também na escola da aldeia. Essa mudança de perspectiva permite pensar de maneira mais próxima os modos de entrada tanto da pedagogia quando do cinema em comunidades indígenas: cinema e escola são aparatos técnicos e teóricos estrangeiros, formados sobre bases políticas, sociais e filosóficas fundamentalmente diferentes da visão de mundo xavante. A presença de estruturas legais, jurídicas, financeiras e técnicas na aldeia que dão corpo esses saberes estrangeiros é, portanto, problemática por si só. São algumas das implicações dessa questão que serão pensadas aqui. Nesse sentido, a análise será desenvolvida em dois movimentos, detendo-se primeiro na relação entre escola e etnicidade, pensando a escola indígena “como espaços de fronteiras, (…) espaços de trânsito, articulação e troca de conhecimentos, assim como espaços de incompreensões e de redefinições identitárias dos grupos envolvidos nesse processo, índios e não índios” (Tassinari, 2001, p.50). Tal abordagem tem o objetivo de ressaltar a escola como espaço interétnico de circulação e reinvenção de pessoas, objetos e saberes. O segundo movimento será no sentido de pensar a relação entre cinema e educação como um processo de constituição de subjetividades a partir da experiência estética. No centro desse processo está um olhar para a relação entre cinema e escola enquanto práticas emancipadoras, constituintes de espaços “em que as potências de um sujeito qualquer encontrem espaço de experimentação e crescimento” (Migliorin, 2015, p.194). Investiga-se a correlação entre os papéis do professor e do realizador indígena enquanto operadores da mediação cultural pressuposta nas atividades do Ponto e da Escola. A ideia, portanto, é trabalhar com um aparato teórico que permita pensar como a escola e o cinema, dispositivos estrangeiros em uma aldeia xavante, operam práticas de produção de comunidade, atuando ao mesmo tempo como interface coletiva de relação intercultural e potência expressiva individual, notadamente em relação às crianças e adolescentes. Entende-se que, nesse processo, cinema e escola integram um quadro de dinâmica intercultural onde estão em questão aquelas restrições que incidem sobre os processos de autodeterminação de uma cultura, assim como os modos com esta se deixa afetar pela alteridade. |
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Bibliografia | BARTH, Fredrik. Ethnic Groups and Boundaries (org.): The social organization of culture difference. Boston: Little, Brown and Company, 1969 |