ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Estilo como possibilidade de metodologia de análise da ficção seriada |
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Autor | Ludmila Moreira Macedo de Carvalho |
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Resumo Expandido | O crescimento das séries de ficção televisivas na contemporaneidade é uma realidade que há muito não pode ser ignorada. Além do desenvolvimento exponencial do mercado produtor e consumidor de séries televisivas nos últimos anos, vem crescendo também, naturalmente, o interesse acadêmico em torno destes produtos audiovisuais. Tais estudos costumam concentrar-se, por um lado, no campo da produção, pesquisando os modos de realização das séries (ESQUENAZI, 2011) e o aparecimento de novas plataformas de exibição e de distribuição (HAMMOND, 2005); ou, por outro lado, no campo da recepção e das complexas relações entre audiências e obras (SILVA, 2014). Há, ainda, a possibilidade de investigação estética das obras, ou seja, a análise de aspectos técnicos, estéticos e poéticos que compõem a estilística das ficções televisivas seriadas, levando em consideração suas particularidades expressivas em relação às outras artes audiovisuais, como o cinema por exemplo (MITTEL, 2006). É neste último campo que se enquadra o trabalho que aqui se propõe, pretendendo contribuir com algumas considerações que levem a avanços metodológicos para a análise de obras audiovisuais seriadas. Isto porque o campo dos estudos de ficção seriada, embora esteja em franco crescimento, ainda carece de procedimentos metodológicos capazes de dar conta de suas particularidades, tais como questões de serialidade e temporalidade, de construção de universos narrativos complexos, de manutenção de estilo e coesão temáticas ao longo do tempo, entre outras. Nesta perspectiva, pretende-se considerar a contribuição do conceito de estilo como uma importante ferramenta metodológica para a compreensão e análise de obras ficcionais seriadas, sobretudo aquelas de longa duração e as incompletas, ou seja, que ainda estão em desenvolvimento e exibição. Compreende-se estilo, neste contexto, como o modo com que os materiais da linguagem audiovisual - que compreende desde o que se chama de mise-en-scène, ou seja, a organização e disposição dos elementos para a câmera, o cenário, o figurino, a iluminação e o movimento e atuação dos atores, até a montagem e a trilha sonora - são utilizados sistematica e significativamente de modo expressivo pelos criadores da obra para atingir um determinado resultado (BORDWELL, 2013). Seguimos, portanto, autores como Mittel, Peacock e Caldwell quando falam de "estilo televisivo", ou seja, do entendimento, infelizmente nem sempre compartilhado por teóricos do cinema e da comunicação, de que obras seriadas feitas para a televisão, especialmente na era contemporânea, possuem marcas estilísticas expressivas dignas de análises detalhadas. Desta forma, esse trabalho se inscreve num tipo de abordagem analítica que "toma a atitude de que a televisão possui potencial para integridade artística e realização, e vê um espectro de programas televisivos como merecedores de um estudo que examine de perto aspectos de estilo" (CARDWELL, 2013, p. 40). Através da análise detalhada de obras ficcionais seriadas, pode-se verificar, por exemplo, de que maneira um modo sistemático de dispor dos materiais expressivos da linguagem audiovisual - seja um determinado modo de utilizar a paleta de cores (Mad Men, AMC 2007-2015), movimentações de câmera e angulações (The West Wing, NBC 1999-2006), manipulações temporais na narrativa (Breaking Bad, AMC 2008-2013), ou então um modo de compor pontos de vista de diferentes personagens (Dear White People, Netflix 2017-), de "costurar" comentários extra-diegéticos à narrativa (She's Gotta Have It, Netflix 2017-) ou de inserir materiais gráficos à produção do mundo ficcional (Sherlock, BBC 2010-), entre outros exemplos - pode sustentar uma identidade de tal modo que as transformações operadas ao longo do tempo pelo qual algumas dessas obras se estendem, incluindo-se, mas não restringindo-se, às possibilidades de mudanças estruturais nas equipes de produção ou nos elencos dessas obras, convirjam para um resultado final coerente e congruente. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Unicamp, 2013. |