ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Aceno da Aura no Cinema Expandido de Bill Morisson |
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Autor | Barbara Bergamaschi Novaes |
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Resumo Expandido | Nossa pesquisa se concentra na corrente no cinema “experimental” nomeado “found footage”, também conhecido como cinema de “reciclagem” ou “reemprego” (termo derivado do francês “remploi”). Nicole Brenez localiza a prática do "detournement" da arte dadaista como a matriz ancestral dos que viriam a ser o "found footage". Cineastas como Bill Morrison, Peter Delput, Peter Tcherkassel, Martin Muller, fazem parte dessa corrente. Como “arqueólogo de imagens” buscam suas inspirações ao “escavar” raras imagens de arquivo. Seus filmes exploram o processo de decomposição imanente à película onde a “carne” (frames, rasgos, sujeira e defeitos) do filmes se tornam aparentes, como corpos orgânicos que respiram. Suas imagens a todo instante se dobram sobre si mesmas num movimento de myse-en-abyme que engendram um olhar sobre o cinema enquanto se constituem como tal. Mais do que se ater ao senso comum da arqueologia de resgatar e historicizar as imagens, esses cineastas buscam explorar essas imagens enquanto forças poéticas, trabalhando suas potencialidades como objeto artístico. Um procedimento conceituado por Didi-Huberman (2015) como "heuristica do anacrônico" que coloca em evidencia diferentes modos de historicidade e relação afetiva com as imagens. Nesta comunicação nos debruçaremos sobre o filme “Light is Calling" (2004) do americano Bill Morrison. Morrison tem formação em pintura e começou a trabalhar com cinema de animação.No final dos anos 1990, o realizador interessou-se pelas possibilidades plásticas dos filmes em suporte de nitrato de celulose deteriorados, hoje, a maioria de seus filmes é trabalhado sob esse material. Hoje colabora regularmente com o Ridge Theater, cia de teatro que utiliza técnicas multimídia, em parceria com influentes compositores de música eletroacústica. Suas projeções teatrais lhe renderam 2 Bessie Awards e um Obie Award. Em 2014 o MoMa recebeu uma grande retrospectiva de seus trabalhos. A fatalidade letal do nitrato de celulose (altamente inflamável) da época do cinema mudo, é em si paradoxal. Se por um lado a película preserva um momento na eternidade, por outro seu próprio corpo ou pele se deteriora com o passar do tempo. Nessa dialética entre visível e invisível vislumbramos a própria representação da vida exprimindo o seu caráter efêmero - o filme “morre" como seus objetos retratados. A “doença” que roí o corpo das imagens manifesta-se sempre de maneira aleatória e imprevisível, como a própria morte nos seres orgânicos. Mais cedo ou mais tarde, o material analógico acaba por se destruir devido à própria tecnologia que o “anima” - o calor do projetor que dá “alma" para as imagens. Sontag (1981 p. 21) já afirmava que uma fotografia de 1900 nos comove mais hoje em dia pelo fato de ser uma fotografia tirada em 1900 do que pelo seu tema. A autora ainda lembra que Benjamin ao falar de Atget e dos Surrealistas já identificava uma possível beleza naquilo no que está em vias de desaparecer. “A aura acena pela última vez na expressão fugaz de um rosto das antigas fotos.” (BENJAMIN, 1996, p.174). Didi-Huberman (2015, p.268) relembra que apesar de identificar o declínio da aura com o surgimento da reprodutibilidade técnica, Benjamin nunca proclamou seu derradeiro fim ou constatou seu desaparecimento. A noção de aura é difusa em toda a obra de Benjamin, sua colocação responde a uma experiência trans-histórica e dialética. Mauricio Lissovky (2005) afirma que umas das formas de “aparição" da Aura para Benjamin se dá no momento em que ela é pressentida como o resíduo do passado depositado sobre os objetos: “um sopro de pré-história circundando a existência atual”. Laura Marks (2000) faz um paralelo entre este conceito de Aura e Fetiche e aplica-os à materialidade das imagens analógicas cinematográficas. Nos perguntamos: imagens que possuem marcas do tempo impregnadas na superfície plástica poderiam deter uma qualidade “aurática” uma sobrevivência ou resistência de aura secularizada “técnica”? |
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Bibliografia | BAZIN, André. O que é o Cinema. Ed Cosac & Naify; 2014. |