ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Efeito de igualdade em Alain Resnais |
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Autor | Isadora Meneses Rodrigues |
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Resumo Expandido | Em suas análises sobre a ficção moderna, o filósofo francês Jacques Rancière contesta o clássico estudo de Roland Barthes sobre o efeito de real na literatura. No texto escrito em 1968, Barthes analisa o que chama de excesso realista em Um Coração Simples, de Gustave Flaubert, obra povoada de detalhes aparentemente sem função narrativa, em que objetos insignificantes aparecem no conto sem participar, à primeira vista, da ordem do notável. Para o autor, o “detalhe inútil” aparece como uma resistência ao sentido e cria uma nova ideia de verossimilhança, oposta à clássica, em que a representação pura e simples do real basta a si mesma, onde o “ter-estado-lá das coisas é um princípio suficiente da palavra” (BARTHES, 1972, p.42). Discordando dessa tese nos ensaios reunidos em O fio perdido (2017), Rancière considera que o efeito de realidade deixa de fora a questão política envolvida no excesso realista. É para dar conta desse aspecto que o filósofo lança mão do termo “efeito de igualdade”, resultado de uma ruptura da ordem representativa e da hierarquia da ação em que a inteligibilidade narrativa da nova ficção não é mais assegurada por um desenvolvimento temporal linear, pois o modelo que divide a humanidade entre seres ativos e passivos é destruído. Esse efeito gera uma cisão radical na partilha do sensível, pois há uma “nova capacidade de qualquer um viver qualquer vida” (RANCIÈRE, 2017, p.27). Apensar de não esmiuçar o que seria esse efeito de igualdade no audiovisual, Rancière nos dá pistas de que o cinema, desde o seu surgimento, liberta a ação da dependência dos seus fins, pois o privilégio da arte cinematográfica seria a de criar uma “conexão universal dos movimentos e uma nova percepção na qual a distinção entre realidade e representação desaparece junto com a distinção entre arte e vida” (RANCIÈRE, 2010, p.89). É na possibilidade de articular uma lógica narrativa e uma contralógica que interrompe toda progressão da intriga que “o cinema realiza um sonho que ele não inventou” (ibid., p.89). Um sonho idealizado pela literatura moderna: a democracia estética. Levando essas questões em consideração, esta comunicação pretende examinar o cinema de Alain Resnais a partir da noção de efeito de igualdade. Mais especificamente, buscamos analisar como o filme Hiroshima mon amour (1959) enseja uma outra divisão do sensível, onde o desastre histórico de Hiroshima, por exemplo, é colocado no mesmo patamar do desastre pessoal em Nevers. Para o estudo, utilizaremos não só os ensaios de O fio perdido (2017), mas também textos em que Rancière trata do cinema de forma mais direta, como os reunidos em As distâncias do cinema (2012a), em O destino das imagens (2012b) e, sobretudo, em A fábula cinematográfica (2013). Buscaremos ainda estabelecer um diálogo com parte da fortuna crítica sobre o cinema de Resnais, principalmente com autores que vincularam a obra do diretor à literatura moderna, como Deleuze, (2005); Haim Callev (1997); John Ward (1968); e Robert Benayoun (2008). |
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Bibliografia | BARTHES, R. Efeito de real. In: Vários autores. Literatura e semiologia. Petrópolis: Vozes, 1972. |