ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Tóquio e o imaginário de 1968: filmes de Matsumoto, Oshima e Terayama |
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Autor | Regiane Akemi Ishii |
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Resumo Expandido | Durante os anos 1960, Shinjuku, um dos principais distritos de Tóquio, abrigou um cruzamento de tensões que o destacaram como um espaço a ser intensamente filmado, tanto por diretores japoneses, quanto por estrangeiros. As consequências da Segunda Guerra Mundial, do Tratado de Mútua Cooperação e Segurança Japão-Estados Unidos e das Olimpíadas de 1964, tornaram-se visíveis no espaço urbano, com as transformações da arquitetura e dos modos de ocupação dos lugares públicos e privados. Tal década foi marcada pela circulação de referências das artes, cinema e literatura de outros países, assim como do imaginário da contracultura que permeou os acontecimentos de 1968. Esta comunicação dedica-se à análise fílmica de três produções realizadas em torno da efervescência política, intelectual e sexual presente na virada da década de 1960 para 1970: “Diário de um ladrão de Shinjuku” (“Shinjuku dorobô nikki”), 1969, de Nagisa Oshima, “Parada funeral de rosas” (“Bara no sôretsu”), 1969, de Toshio Matsumoto, e “Jogue fora seus livros, manifeste-se nas ruas” (“Sho o suteyo machi e deyou”), 1971, de Shuji Terayama. Em “Corpos da memória - Narrativas do pós-guerra na cultura japonesa (1945-1970)” (2012), Yoshikuni Igarashi examina o campo entre a repressão e a expressão do trauma da guerra nos corpos que sobreviveram à destruição. Segundo o autor, o alto crescimento econômico atingido na década de 1960 foi usado como uma resolução temporária para o país suportar as memórias da guerra, o que acabou por reverberar na própria arquitetura de Tóquio, com novas fachadas, planejamentos e, consequentemente, outros modos de convocar o corpo dos habitantes e visitantes, servindo como artifício para forjar a superação. O ápice da exibição da superação do pós-guerra se dá com as Olimpíadas de 1964. Para Igarashi, as Olimpíadas foram uma “oportunidade para a sociedade japonesa do pós-guerra reconfigurar e higienizar suas memórias da guerra através de corpos atléticos e paisagens urbanas” (2012, p. 52). Resistentes à assepsia forjada do período, os filmes citados localizam-se como iniciativas de contestação e resistência. Tais produções confrontam a narrativa de desenvolvimento econômico e higienização do espaço público, dedicando-se à efervescência dos bares e da produção cultural que emergia no submundo de Shinjuku, a poucas quadras das novas construções de lojas de departamento, bancos, hotéis e prédios governamentais. “Diário de um ladrão de Shinjuku” é uma adaptação livre de “Diário de um ladrão” (1949), escrito por Jean Genet. A livraria Kinokuniya é locação para uma das sequências iniciais do filme, em que o protagonista rouba livros de Genet enquanto uma garota finge ser vendedora. “Parada funeral de rosas” é protagonizado pela travesti Eddy, interpretada por Peter, figura da cena gay de Shinjuku descoberta pelo diretor Matsumoto. A narrativa não linear envolve um complexo de Édipo inverso e traz uma série de referências, de Baudelaire a Andy Warhol. Já “Jogue fora seus livros, manifeste-se nas ruas”, tem como protagonista um adolescente que joga futebol e lida com sua família disfuncional. A história principal é entrecortada por uma série de sequências da experiência jovem de Tóquio, como uma manifestação em Shinjuku que abarca uma polifonia de modos de exteriorizar a postura anti-guerra. O principal aporte teórico para a análise das relações entre cinema e cidade encontram-se em “Atlas of emotion - Journeys in art, architecture, and film” (2007), de Giuliana Bruno. Já as investigações de Christine Greiner em “Leituras do corpo no Japão” (2015) e “Fabulações do corpo japonês” (2017) instigam a reflexão sobre o que chamou de “diásporas cognitivas”, deslocamentos de artistas e pesquisadores tanto japoneses, quanto estrangeiros, que também são evidenciados nos filmes selecionados. |
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Bibliografia | BARBER, Stephen. Projected cities. Londres: Reaktion Books, 2002. |