ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Pós-colonialismo(s) e o cinema brasileiro |
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Autor | Michelle Cunha Sales |
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Resumo Expandido | Em 2017, acompanhamos a discussão acalorada em torno do filme da diretora brasileira Daniela Thomas, o Vazante. Tal debate extrapolou os limites da imagem diante da complexidade das questões que o filme traz: passado colonial, escravidão, representação do povo negro no Brasil. Houve, por parte do público na ocasião da exibição do filme no Festival de Brasília (2017), a exigência de uma reflexão mais aprofundada acerca do lugar de fala de quem narra a memória colonial brasileira e, sobretudo, como narra. Queremos assumir essa urgente questão. Assim, neste artigo, propomos uma abordagem histórica da questão pós-colonial no cinema brasileiro, recuperando os manifestos Estética da fome e Estética do sonho, ambos de Glauber Rocha, como também Towards a third cinema de Fernando Solanas e Octavio Getino, apontando de que forma surge nos anos 1960 na América Latina um pensamento politico acerca da imagem e sua relação com a construção de um discurso anti-colonial, ou mesmo descolonial. No percurso dessa história, iremos apontar filmes e diretores a partir dos anos 1960 no Brasil e a maneira com a qual a partir da Retomada do cinema brasileiro esta questão volta a ser discutida, tendo o filme Vazante como espécie de apogeu de uma grave crise acerca da imagem do nosso passado colonial e da memória do povo negro no Brasil. Nos últimos anos, observamos a partir do campo teórico do feminismo negro no Brasil a questão contundente do lugar de fala, esse conceito permitiu atualizar a ideia de opressão ligada ao passado colonial brasileiro, resignificando o lugar da mulher negra e do próprio movimento negro no Brasil, sobretudo em torno da noção de representatividade cultural e da importancia de legitimar uma produção cultural do povo negro ou periférico no Brasil. A ruptura trazida pela questão do lugar de fala surge num contexto cultural no qual novas dinâmicas de criação e difusão da cultura vão sendo protagonizadas por instituições culturais que surgem nas periferias, nas favelas e nos subúrbios do Brasil. Vamos apontar de maneira mais aprofundada a situação carioca onde nos anos 2000 surgiram: a CUFA, Central únicas das Favelas, na Cidade de Deus, o Observatório de Favelas, na Maré, a Cidadela, o Afroreggae e o Nós do Morro, no Vidigal. Nos anos 2000, o importante filme do Cinema Novo Cinco vezes favela (1962) é parodiado pelo Cinco vezes favela, agora por nós mesmos, realizado em 2007, no qual os próprios moradores das favelas decidem assumir o lugar de fala para contar suas histórias. Ao relacionar o campo teórico do feminismo negro com as novas dinâmicas de produção cultural no Brasil, aprofundaremos por fim, a análise do discurso do filme Vazante, de Daniela Thomas e seus desdobramentos midiáticos, éticos e políticos. |
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Bibliografia | GOMES, Juliano. A fita branca In: Revista Cinética, 18 de setembro de 2017 |