ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | A Cinematografia e a Plasticidade Dramatúrgica |
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Autor | Rogério Luiz Silva de Oliveira |
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Resumo Expandido | A emancipação do equipamento cinematográfico, permitindo suas investidas por entres atores e atrizes, permitiu à direção de fotografia colaborar com a transformação do modo de contar histórias por meio da linguagem audiovisual. A câmera cinematográfica abandonou o movimento funcional, objetivo, brusco e/ou rígido e evidenciou o que poderíamos denominar como, com as palavras de Michel Chion, “desejo da câmera” (CHION, 2012, p. 25, tradução nossa). Dotado da capacidade de atribuir sentidos, a partir de seu posicionamento, perspectiva ou mesmo movimentação, o equipamento cinematográfico passou a ser explorado em experiências coreográficas, assumindo a feição de um “agente ativo de registro da realidade material” (MARTIN, 2011, p. 33), para tomar de empréstimo a definição de Marcel Martin. Isto, se ficarmos apenas num dos elementos constituintes da direção de fotografia. Pois se ampliarmos o escopo que está sob o alcance da cinematografia, ainda encontraremos variações técnicas que interferem diretamente sobre o material dramatúrgico. A luz - e suas inúmeras possibilidades -, certamente seria uma delas. E aqui não podemos perder de vista outro fenômeno emancipatório e que diz respeito ao modo como a luz que, a exemplo do que aconteceu com o movimento da câmera, também passou a ser explorada segundo princípios de linguagem. Diante deste duplo caminho que desponta, a proposta aqui apresentada propõe refletir sobre a forma como os procedimentos básicos da direção de fotografia contribuem para o processo de construção de personagens no audiovisual. Para isso, a reflexão se vale de uma interlocução com as ideias de Constantin Stanislavski, presentes em sua trilogia dedicada à atuação: A Preparação do Ator (1936), A Construção da Personagem (1949) e A Criação de um Papel (1961). Fonte originária de inúmeras ideias posteriormente seguidas no audiovisual, inclusive, o pensamento stanislavskiano possibilita o aprofundamento nas investigações acerca da importância da direção de fotografia por haver, na obra do encenador, ator e escritor russo, preocupações com o modo como se dá a criação física de um papel (STANISLAVSKI, 1984, p. 225). Na busca pelo objetivo delineado, esta proposição está sistematizada a partir de três unidades estéticas extraídas da trilogia supracitada: a plasticidade, a expressividade corporal e a perspectiva. Quando transpostas de sua origem, as três ideias parecem adequadas ao estudo da direção de fotografia, no sentido de possibilitar perceber as contribuições da cinematografia para a constituição do que o próprio Constantin Stanislavski denominou de tempo-ritmo exterior, ao se referir ao tempo (aceleração ou arrastamento da ação) em que se dá a atuação. O que, sob as condições da câmera, faz muito sentido notar do ponto de vista cinematográfico. No que tange à plasticidade sugerida pelo entendimento stanislavskiano, deste modo, importará compartilhar experiências fílmicas em que o tempo da personagem está acentuado ou atenuado pelas contribuições da câmera; já quanto à expressividade corporal, consideraremos fragmentos fílmicos que constroem, a partir do duo câmera-luz, uma estrutura dramática que, no espaço da criação artística, toca a condição ideal; por fim, concluiremos a reflexão contornando a ideia de perspectiva que, se do ponto de vista stanislavskiano aponta para a perspectiva artística do/da ator/atriz, em nossa enunciação extrapola para a relação entre a câmera e o deslocamento de atores e atrizes pelo espaço fílmico, enfatizando a contribuição dessa interação para a construção da profundidade das personagens. A proposta, por fim, é que esse exercício conceitual ressoe na análise de sequências de filmes, a fim de identificar os traços da cinematografia na elaboração do jogo dramatúrgico, com atenção à maneira como, também com as palavras de Stanislavski, “as ações físicas” passam à “imagem viva” (STANISLAVSKI, 1984, p. 225). |
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Bibliografia | CHION, Michel. Technique et création au cinema: le livre des images et des sons. Champigny, France: ESEC Édition 2012. |