ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | A micropolítica dos gestos e afetos em “Las Acacias” |
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Autor | Mariana Dias Miranda |
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Resumo Expandido | O Nuevo Cine Argentino é marcado especificamente por um rompimento estético em relação ao cinema político dos anos 1960 e filmes de memória dos anos 1980. Nesse sentido, é identificada constantemente a ausência de um projeto político declarado e de um imperativo identitário que busca diagnosticar problemas nacionais e apresentar suas soluções (AGUILAR, 2008). Há, dessa forma, a exploração do presente através de narrativas ambíguas, rarefeitas e que investem na dimensão do corpo e do sensório como maneira de privilegiar indivíduos em constante entrecruzamento, colocando em foco um dinamismo de identidades diversas em simultaneidade e tensão. Nesse contexto, o filme Las Acacias (Pablo Giorgelli – Argentina – 2011) esbarra com o tema da imigração no interior da América Latina e, ao trabalhar com uma narrativa mínima, principalmente com poucos diálogos, traz a tona a dimensão do corpo e dos gestos dos personagens como chave de leitura da obra, fazendo com que os aspectos sensíveis e materiais sejam centrais, ao invés de signos racionais e linguísticos. É no corpo que a negociação entre os personagens principais da obra acontece, enfatizado por uma mise-en-scène que se constrói também enquanto corpo e que cria uma porosidade entre os planos e enquadramentos. Entende-se o conceito de afeto como a instauração de um evento dinâmico que desterritorializa e desloca elementos de seus lugares preconcebidos, ou seja, enquanto algo que emerge em meio ao tecido narrativo e suspende a dimensão estruturada dos significados. Dessa forma, partindo do pensamento de Elena Del Rio (2008), do afeto enquanto “poderes do corpo” em sua propriedade criativa e ontogênica, este trabalho propõe associá-lo com a definição de “economia afetiva” em Sara Ahmed (2004), a qual define a circulação de objetos saturados de afeto como o que dá forma as tensões sociais. Coloca-se como hipótese, portanto, o conceito como um instrumento de análise eficaz para a leitura de um modo micropolítico presente nesse cinema. Ao se definir o potencial de disrupção de uma micropolítica dos afetos e sua propriedade criativa, propõe-se uma associação com a filosofia de Jacques Ranciére (2014), principalmente através da união entre estética e política colocada como um modo distribuição do sensível. Com isso, seria possível uma relação entre a figura do “dissenso” apontada pelo autor como algo que instaura uma ruptura que desafixa os sujeitos de seus lugares, sendo desse modo, potência de criação de novas formas de pensar e de fazer. Inserindo Las Acacias no contexto de um cinema que passa de uma escala macro para micro, pretende-se com esta comunicação, pensá-lo dentro de um momento de “política do sensível” (DI PAOLA, 2010), na qual o aparato cinematográfico não busca apenas retratar o diagnóstico de uma realidade externa, mas também o potencial de criação em si de outros mundos e imagens. Portanto, pensando uma mise-en-scène enquanto expressão do entrecruzamento e colisão entre diferentes corpos. Propõe-se com essas associações, a aproximação com um modo de “pensar junto”, como apontado por Susanna Paasonen (2011) em relação as trincheiras teóricas da virada afetiva. Ao se colocar em conjunto diferentes perspectivas em torno do conceito de afeto e, através disso, articular essas abordagens no que têm de comum enquanto possibilidade de se pensar uma retórica da ação do corpo como criação política no cinema contemporâneo. |
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Bibliografia | AGUILAR, Gonzalo. Other Worlds: New Argentine Film. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2008. |