ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Uma imagem política: o cinema de Andrea Tonacci entre eu e o outro |
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Autor | Laís Ferreira Oliveira |
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Resumo Expandido | Neste trabalho, aproxima-nos da filmografia do diretor Andrea Tonacci, tentando compreendê-la como uma inscrição política sustentada pela radicalidade da diferença e por uma abordagem distinta da história. Podemos destacar três gestos fundamentais em sua filmografia: o encontro com o mundo do outro, a investigação da história, e o uso de imagens de arquivos. No primeiro caso, destacamos as obras Serras da desordem, Conversas no Maranhão e os Arara, em que as imagens de contato baseadas na opacidade e na impossibilidade de compreensão total do mundo do outro constroem movimentos de alteridade que as instituições públicas e autoridades não adotaram na demarcação das terras indígenas. No segundo caso, destacamos a desconfiança com os discursos oficiais e midiático, presentes em Olho por olho, Bla bla bla e Serras da desordem. No terceiro, podemos compreender a montagem por aproximação de eventos de períodos cronológicos distintos, a fim de apontar repetições e permanências de opressões na história brasileira. Ao refletir sobre o tempo no cinema, em As teorias dos Cineastas, Jacques Aumont afirma: “o cinema sugere um mundo diferente do mundo fenomenal e mesmo do mundo real - a menos que sugira que o mundo real não é o que acreditamos - porque desconecta o espaço de seu tempo-suporte” (Aumont, 2002 : 37). Dessa maneira, a linguagem cinematográfica inscreve uma nova percepção sensível da realidade. No campo da política, o cinema estaria apto a recodificar os lugares da diferença, da alteridade e da construção de uma narrativa da história, na medida em que poderia propor convivências e organização de imagens de arquivo de maneira em que a narrativa geral não o fez. Entendemos o conceito de política a partir de Hannah Arendt, segundo a qual a ideia de coisa política seria idêntica à ideia de liberdade, basear-se-ia na pluralidade dos homens e na convivência com os diferentes, organizando, de antemão, “as diversidades absolutas de acordo com uma igualdade relativa e em contrapartida às diferenças relativas”(ARENDT, 2018, p. 24). Pensada dessa forma, a política diferenciar-se-ia da história, na medida em que “o moderno conceito de História substitui um conceito de política qualquer que seja a sua natureza; acontecimentos políticos e agir político são diluídos no acontecer histórico e a História é compreendida, no sentido mais textural. como um fluxo da história”(ARENDT, 2018, P.52). Podemos, também, pensar que a política, como o cinema, estabeleceria um processo de suspensão da realidade. Como aponta Aumont, “O cinema inventa imagens da realidade, seja para exprimir arealidade, seja para negá-la e afirmar-se em seu lugar. Mas ‘entre’ a imagem de filme fabricada e pensada e a realidade, há o visível e o visual. É nessa “zona” vaga que os cineastas trabalham, cultivando a arte de ver e de contemplar (AUMONT, 2002, p.80). Assim, os filmes de Tonacci tornar-se-iam um agir político na medida em que mobilizam os fatos e personagens de uma história em um sentido de assumir a diversidade de suas diferenças e acolhê-las em função de outra convivência comum. Para Arendt, o entendimento da política se baseia na possibilidade de identificação do objetivo, meta, sentido e convicção na vida comum pública. A partir desses elementos, no contato com a obra de Tonacci, percebemos que o filmes se contrapõe às imagens de violência ou ao funcionamento de uma guerra, em que a denúncia ou o combate para conseguir a paz sacrificam as metas e objetivos, em que não há paz, mas sofrimento e imagens massacrastes e de alta exibição da dor dos outros. |
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Bibliografia | ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária , 2007. |