ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | A catástrofe do agora em A Terra das Almas Errantes |
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Autor | Andressa Caires Pinto |
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Resumo Expandido | Interrompidos por três sucessivas guerras, cambojanos fazem do testemunho um elemento mobilizador em torno de diversos aspectos da vida pessoal. Ao ilustrar elementos autênticos sobre a fragilidade do Camboja pós-colonial, o filme A Terra das Almas Errantes (1999) de Rithy Panh alerta sobre as formas de exploração imposta pelas mídias corporativas, o caráter clandestino das ofertas de emprego e o desespero de inúmeras famílias que enfrentam longas e exaustivas jornadas de trabalho para continuarem sem qualquer garantia de dignidade e/ou progresso. Ao constituir uma amostragem nacional, o testemunho revela sobre as diferentes categorias de exploração ainda sofrida pelos personagens. Enquanto subtextos simultâneos e sobrepostos, narram as dificuldades de um cotidiano incapaz de se dissociar do passado, 'onde o encontro com o real é sempre traumático.’ (SELIGMANN, 2000, p.86). São personagens à deriva de qualquer transformação social significativa. A narrativa, neste sentido, torna-se instrumento de engajamento na fase embrionária da retomada da consciência social. Se por um lado, a narrativa é capaz de inserir um diálogo sobre os valores da sociedade civil, cujos relatos devem responder 'a transformação da realidade e a melhoria da condição humana' (ALEA, 1984, p.30); por outro, faz uma critica ao imperialismo midiático e aos efeitos da globalização cultural nas culturas nacionais. Se os aparelhos institucionais anunciavam um princípio de democracia no Camboja, esta narrativa fílmica, inescapavelmente, traz um mundo tingido de crenças, desejos, concepções e objetivos ainda fictícios na esfera pública, onde a ‘coerência do propósito ordena a escolha das imagens'. (FERRO, 1992, p. 74) Este procedimento de escritura tem como marco inicial o cinema humanista de Marcel Ophüls, que o inaugura um ano após Maio de 1968. Em Le Chagrin et La Pitie (1969), Ophüls confronta o discurso das imagens com os discursos textuais, e assim, denuncia através da memória coletiva da cidade de Clermont-Ferrand, 'as contradições da França ocupada, um país acovardado e pronto para a colaboração com o invasor alemão, para, em seguida, assumir, indevidamente, o papel histórico de resistente’ (TEIXEIRA, 2004, p. 11). O jornalista Paulo Francis publica, em novembro de 1972, um ensaio no semanário O Pasquim sobre a recepção do filme em Nova York, e sobre as forças reacionárias que ressurgem através do caráter investigativo do documentário. A rigor, ele consiste em apresentar, no decorrer da narrativa, fontes contestadoras ao tema para atingir uma certa precisão sobre os desdobramentos da ocupação nazista em território francês. O franco-cambojano Rithy Panh, de maneira análoga, é descendente desta linguagem. Diferentemente de Ophüls que busca retomar as circunstâncias da II Guerra num contexto pós-guerra, Panh observa um passado que é também presente. O isolamento entre as comunidades e a restrita escolarização são algumas das causas que intensificam as distâncias culturais entre sociedade e Estado, propiciando assim, a proliferação de subculturas internas (GELLNER, 1996). Um cinema de resistência e reflexivo, portanto, busca reaproximar estas partes, bem como, denunciar a despreocupação dos conglomerados transnacionais para com a democracia, o meio ambiente social e os direitos humanos. Por fim, o que o documentário Panh sinaliza são as duas atitudes textuais historicamente construídas no embate entre Oriente e Ocidente pela indústria cultural, e que podem ser compreendidas em suas respectivas tramas. Se o sucesso do Ocidente no Oriente se deu majoritariamente através de projeções e narrativas que buscavam institucionalizar vantagens ao colonizador, a narrativa terceiro-mundista elabora não apenas o conhecimento sobre a natureza destes discursos, mas também, a própria realidade que ela pretende descrever. Com o tempo, tal conhecimento e realidade produz a tradição, (…) composta por unidades de informações pré-existentes (SAID, 1978, p. 9). |
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Bibliografia | ALEA, Tomás Gutiérrez. Dialética do espectador. São Paulo: Editora Summus,1984. |