ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Intermidialidade realista, realismo de confronto e historiografia |
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Autor | Marcela de Souza Amaral |
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Resumo Expandido | O presente artigo abordará os elementos de intermidialidade no filme O invasor (Beto Brant, 2001), se concentrando na relação entre a música e o cinema; e investigando de que forma esse recurso pode ser compreendido como uma ferramenta historiográfica e de produção de uma visão social crítica. Ao tratar da conflituosa estrutura social brasileira, o filme constrói um quadro de forte apelo realista, onde a relação entre elite e periferia não se assenta em uma oposição direta e simplista; mas se monta a partir de noções conflitantes, como divisão e proximidade; diferenciação e promiscuidade; contraste e cumplicidade. No filme, o mergulho nessas duas esferas se dá sobretudo através da música — que se apresenta em variados formatos (como trilha sonora, videoclipe, música diegética, entre outros); e singularmente através do hip-hop da periferia de São Paulo. Essa intrínseca relação com a música se constrói sob um intenso apelo realista, constituído em uma linguagem de constante oscilação entre códigos reconhecidamente ficcionais e documentais. Nota-se assim, a abertura de importantes espaços na narrativa para o que pode se compreender como uma “erupção do real”; ou um realismo produzido no confronto entre esses dois campos, o ficcional e o documental. Analisando, entre outros elementos, a sequência em que o rapper Sabotage, representando “quase a si mesmo” e com bastante improviso, entoa um rap de protesto social para os personagens de ricos e perplexos sócios de uma construtora; encontramos fortes evidências, de que, à medida que Brant se apropria do “inesperado”, usando a câmera para capturar “eventos da verdade” (BADIOU, 2006), os elementos do instante pró-fílmico passam a ser absorvidos pelo filme na composição de sua atmosfera e narrativa; gerando uma produtiva intersecção entre o apelo realista do filme e a música. O estudo das relações intermidiáticas de O invasor se torna crucial no reconhecimento do potencial fílmico de representar uma realidade singular. O interesse desse artigo é, assim, o de investigar a natureza da relação entre a intermidialidade e o realismo em O invasor, a partir de algumas questões que o filme suscita nos temas estudados: de que forma a música no filme torna-se uma ferramenta para potencializar o apelo realista, e detém ainda um aparente poder de representar a realidade social brasileira atual? De que forma essa intermidialidade pode ser vista como uma ferramenta historiográfica, que ajuda a retratar um tempo-espaço singular na história recente de São Paulo e da cultura brasileira? E seria mesmo possível traçar essa relação direta entre a intermidialidade do filme e seu apelo realista? Ou melhor, poderíamos falar de uma “intermidialidade realista”? Na tentativa de buscar respostas a estas questões, nos baseamos em um repertório teórico atualíssimo, que discute questões como intermidialidade, realismo fílmico e ética; particularmente como encontrado em autores como Lúcia Nagib (2007; 2017), Alain Badiou (2006), Thomas Elsaesser (2009), Agnes Pethö (2011), Ismail Xavier (2001 e 2011) e Ivana Bentes (2007). Além disso, como material de apoio, utiliza-se também a entrevista concedida pelo diretor do filme, aos professores Lúcia Nagib e Samuel Paiva, para o documentário Passagens (Lúcia Nagib e Samuel Paiva, a ser lançado), que é um trabalho fundamental e atual sobre a intermidialidade no cinema. |
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Bibliografia | BADIOU, A. Being and Event. Londres: Continuum, 2006. |