ISBN: 978-85-63552-26-6
Título | Subjetividade feminina e uso dos arquivos na ditadura civil-militar |
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Autor | Letícia Marotta Pedersoli de Oliveira |
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Resumo Expandido | Se a ditadura civil-militar deixou um legado obscuro na história no Brasil, deve-se principalmente, a falta de elaboração desse passado no presente. A ditadura no Brasil é marcada por uma política do esquecimento, onde esse período tão importante da nossa história é tratado de forma rasa e superficial. As injustiças ainda não foram reparadas, os torturadores não foram julgados, as famílias dos desaparecidos ainda esperam uma explicação. A história permanece aberta, sob a égide de um esquecimento forçado, interessado em fazer apagar os rastros desse passado. Esta proposta pretende analisar alguns documentários que se localizam historicamente nesse período de abertura dos arquivos da ditadura civil-militar brasileira, em 2011. É significativo o aumento do número de filmes que tentam elaborar, em suas diferentes formas e dispositivos, esse período da história brasileira. É significativo também nesse contexto, a forte presença da mulher no trabalho de elaboração dessa memória, seja no papel de diretoras, roteiristas, montadoras ou personagens desses filmes. O acesso aos arquivos, instaurado pela Comissão Nacional da Verdade, permitiu pela primeira vez na história do país, a possibilidade de tocar os documentos, reconhecer os nomes dos carrascos, ver as imagens de um período que por tanto tempo permaneceu inacessível aos cidadãos brasileiros. Partindo do pressuposto de Benjamin (2012), articular o passado, não é conhece-lo tal como foi, mas apropriar-se de uma reminiscência, como ela relampeja no momento de perigo. O passado só se deixa capturar como imagem que relampeja irreversivelmente no momento de sua conhecibilidade. Nesses documentários, há uma emergência desses arquivos que foram descobertos no presente. São vestígios imagéticos que se tornaram legíveis neste momento histórico, acendendo sua correspondência com o passado. É através do dispositivo do cinema no presente que um corte temporal é feito na história, convocando as personagens a rememorar com o espectador a partir dos rastros visíveis. Assim, nos lançamos a uma investigação sobre como o cinema, nos filmes “Retratos de Identificação” (Anita Leandro, 2014), “Em busca de Iara” (Flávio Frederico, 2013) e “70” (Emília Silveira, 2014) e na interação entre elas, possibilita uma sobrevida aos ausentes e ausências da história da ditadura civil-militar brasileira a partir da subjetividade feminina. Ainda que os filmes se reúnam por uma heterogeneidade de procedimentos e métodos, eles encontram no trabalho de rememoração, perpassado pela presença da mulher em seu interior, a possibilidade de reelaborar, reescrever e de se reinventar a história. São filmes que, a partir desse marco da abertura dos arquivos, ajudam a elaborar através da forma fílmica, o uso de procedimentos rememorativos, esse período para o Brasil. Os filmes aqui analisados funcionariam como um dispositivo de sobrevida aos ausentes da história. Os documentários voltam-se para a atualidade com os seus diferentes procedimentos e nos seus diferentes usos, remontando-os e reenquadrando-os na forma fílmica, possibilitando uma voz através dos outros a essas histórias esquecidas. Portanto, uma análise dos filmes nas suas inter-relações a partir dos dispositivos utilizados, principalmente no uso dos arquivos, possibilitaria um olhar mais atento as especificidades da maneira feminina de se rememorar a história da ditadura civil-militar brasileira. Como a sobrevida se dá nesses filmes sob a ótica do olhar feminino? Porque a presença feminina se engendra tanto nos trabalhos da memória em nossa atualidade? Essas são alguns questionamentos que tangem a pesquisa aqui proposta. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Obras Escolhidas v.1) |